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Análise

Discurso antigastos e críticas ao Irã impulsionam Santorum

JULIA SWEIG
ESPECIAL PARA A FOLHA

A candidatura de Rick Santorum à indicação presidencial republicana, vista no passado como sendo uma aposta com muito poucas chances de sucesso, agora, surpreendentemente, pegou fogo entre os eleitores das primárias.

Quem é Santorum, e por que ele agora está pau a pau com Mitt Romney, ex-governador do Massachusetts e opção preferida do establishment político e financeiro republicano?

Católico, é um ex-senador das regiões mineradoras de carvão da Pensilvânia que se notabilizou por sua antipatia pelos mulás do Irã -foi proponente precoce das políticas de mudança de regime no país- e por fazer oposição ao aborto e à contracepção.

Ele diz que a mídia exagerou a importância de seus pontos de vista sobre questões sociais e que, na Casa Branca, não usaria programas do governo para promover esses pontos de vista.

É muito possível que o próximo presidente dos EUA nomeie dois novos membros da Suprema Corte, árbitro último e final das leis relacionadas às políticas sociais.

Os democratas apostam que a possibilidade das crenças religiosas e sociais de um eventual presidente Santorum nortear suas nomeações para a Suprema Corte garante que as mulheres e os eleitores gays provavelmente não depositarão muita fé nele.

Com relação à política externa, tem uma visão de mundo menos desenvolvida, mas ela parece focar em grande medida as ameaças aos EUA.

Em 2001, quando ainda estava no Senado, e contra as objeções da administração de George W. Bush, Santorum redigiu uma lei destinando US$100 milhões para apoiar os ativistas "democráticos" iranianos -em sua maioria vivendo fora do Irã.

Hoje ele se arroga o manto da clarividência, alegando que viu o Irã como ameaça nuclear antes de qualquer outra pessoa em Washington levar isso a sério.

Ele já argumentou que não existe algo chamado um palestino e avisou que o Irã e o Hizbollah, em conluio com a Venezuela, ameaçam a segurança latino-americana; logo, a dos Estados Unidos.

O extremismo de Santorum vem embalado num pacote que provoca confusão. Ele é bonito, bem falante e, cercado por sua mulher e vários filhos, aparenta ser sincero em suas ideias.

Possui poder populista de agradar aos eleitores brancos, da classe trabalhadora.

Seu "ethos" contra os gastos governamentais é condizente com o de seus pré-candidatos rivais, a despeito da espantosa onda de gastos em que mergulharam o último Congresso e presidente republicanos e da responsabilidade geral deles por plantarem as sementes da crise financeira e econômica de hoje.

E Santorum possui uma energia juvenil que forma um contraste marcante com Newt Gingrich, Ron Paul e Romney.

É bem possível que a melhor explicação para o crescimento de Santorum não esteja em suas posições sociais ou de política externa radicais, e sim na candidatura pouco inspiradora, nas posições políticas contraditórias e na frieza pessoal geral do próprio Mitt Romney.

JULIA SWEIG é diretora do programa de América Latina e do Programa Brasil do Council on Foreign Relations

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