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Estado vê esfriar debate sobre lei de imigração

Pré-candidatos republicanos querem tornar nacional legislação rígida do Arizona

LUCIANA COELHO
ENVIADA ESPECIAL A PHOENIX (ARIZONA)

"Eles me assustam", resume Claudia Bautista, 24, indagada sobre os aspirantes republicanos à Casa Branca. E disfarça um riso nervoso: "Quando você presta atenção no que dizem, a sério, dá medo. Nem sei quem é pior".

Claudia nasceu no México, mas desde os 11 anos mora nos EUA. Fez faculdade na Califórnia e há dois anos vive em Phoenix, a capital do Arizona, onde serve comida nos quartos de um grande hotel.

A reportagem da Folha a encontrou em um sindicato. O choque de se mudar de um Estado com a maior população estrangeira do país para outro famoso pelas leis anti-imigrantes a despertou para a política, e ela se licenciou para atividades sindicais.

A moça de inglês sem sotaque e que escaparia das blitze do Estado, onde pessoas são barradas pela aparência, é exceção num lugar onde nível escolar e politização dos imigrantes são baixos.

Mas é exceção crescente, em parte pela promessa dos pré-candidatos republicanos de implantação nacional das leis que dão ao Estado a fama de mais linha-dura do país.

O Arizona tem 30% de sua população latina, quase o dobro do resto dos EUA, e só 4% de seus habitantes são imigrantes regulares. A projeção citada pelo professor Bruce Merrill, da Universidade Estadual do Arizona, é que em duas décadas serão maioria.

"Essa perspectiva assusta a população branca mais velha, que vê seus valores em risco", diz Merrill. "Por isso as reações extremas, pioradas com a crise. As pessoas buscam bodes expiatórios."

Masavi Perea, 37, mexicano que viveu mais tempo nos EUA que em seu país, concorda: "Atacar os imigrantes é mais fácil do que falar dos problemas reais". Dirigente local da central sindical AFL-CIO, Perea diz que as leis que permitem à polícia no Estado parar gente na rua e exigir documentos sob pena de deportação mudaram o sindicato.

"Mais da metade dos afiliados é imigrante. Muitos sumiram", diz. Ao mesmo tempo, o sindicalista comemora que o radicalismo tenha levado mais gente a se organizar.

Paralelamente, as duas figuras mais identificadas com a perseguição, os xerifes Joe Arpaio e Paul Babeau, estão em baixa -o primeiro acusado de abuso de poder, e o segundo envolvido em um escândalo após tentar deportar seu ex-amante mexicano.

"Isso tirou um pouco o assunto da mídia", afirma Merrill, explicando que, embora 80% dos eleitores do Arizona defendam maior proteção na fronteira com o México ("por causa também das drogas"), a maioria é a favor de anistiar imigrantes já no país.

Essa fadiga em relação à questão atinge também os conservadores, majoritários no Estado que, aos poucos, tem migrado para o centro.

"As pessoas cansaram de tanto falar nisso sem chegar a lugar nenhum", disse Jack Lavelle, ex-assessor republicano que se diz "conservador das antigas". Ontem, votou em Mitt Romney. Pela política migratória? "Não. Porque, sendo o mais moderado, pode vencer em novembro."

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