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1 ano depois de tsunami, recomeço é ainda incerto

Infraestrutura tem rápida reconstrução no Japão, o que não ocorre com casas

No norte do país, há 340 mil pessoas que vivem em residências temporárias, por causa de tremor e vazamento

FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL AO NORTE DO JAPÃO

Shoji Yamada dá uma rápida volta pelo terreno vazio arrastando as botas pela neve. Ao terminar, aponta para o imenso quadrado e, com seu sorriso permanente, explica: "Ali ficava a minha casa".

O agricultor de Sendai é um dos cerca de 340 mil japoneses em residências temporárias após perderem a casa no tsunami de um ano atrás ou terem de abandoná-la por causa do vazamento de radiação da usina nuclear de Fukushima, que se seguiu.

A grande maioria não sabe quando, como ou onde a vida vai recomeçar.

Um ano depois, a infraestrutura de transporte -pontes, estradas de ferro, rodovias e aeroportos- tem a reconstrução mais adiantada.

Mas, no que se refere a moradia, o trabalho ainda não começou. A limpeza está longe de terminar e faltam projetos para substituir as dezenas de localidades arrancadas pela raiz por ondas de até 45 metros.

A poucos quilômetros da casa destruída, ele agora divide dois cômodos com a mulher e os sogros. O conjunto pré-fabricado foi construído em três meses sobre um campo de beisebol. Eles têm direito a dois anos sem aluguel, com a possibilidade de renovar por mais três anos.

"Antes, atravessava sete cômodos para chegar ao altar [budista]. Agora, está dentro do meu quarto", diz Yamada, olhando para a parede com fotos da nora e dois netos, mortos na tragédia.

A área de 15 hectares onde a sua família plantava arroz havia gerações foi afundada em relação ao nível do mar. Para recuperá-la, são necessários pelo menos cinco anos, longo tempo de espera para os seus 65 anos. A reconstrução da casa -levada por uma onda de 1,80 m, apesar de estar a 1,5 km do mar- é uma incógnita: ele não sabe se haverá ajuda oficial.

"A insegurança com o futuro está aumentando porque o dinheiro da poupança está acabando", diz o voluntário Daisuke Sonoda, 30, há um ano trabalhando em Minamisanriku, cidade pesqueira ainda parcialmente tomada pelo entulho e onde persistem cenas surreais, como a de um carro se equilibrando sobre um prédio.

Uma estimativa oficial mostra que, até o início deste mês, apenas 6,5% dos 22,5 milhões de toneladas de entulho produzidos pelo tsunami haviam sido processados.

COMPARAÇÃO

Para a arquiteta brasileira Ivana Almeida de Figueiredo, que participa de um projeto para reconstruir vilas pesqueiras via Universidade de Tóquio, já há avanços significativos.

Mas os impasses incluem a discussão sobre os processos urbanísticos e a definição das prioridades. Figueiredo faz um doutorado comparando o tsunami às enchentes da região serrana do Rio.

Ela diz que uma das maiores diferenças entre os dois países está no gerenciamento de risco.

"Todas as cidades do Japão levam em consideração rotas de escape urbano e localização estratégica de instrumentos urbanos como corpo de bombeiros, hospitais, abrigos e instrumentos de recebimento e redistribuição de alimentos", afirma.

Colaborou ROBERTO MAXWELL

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