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Risco é matador virar mártir, diz líder judeu francês

VICTORIA ÁLVARES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE PARIS

Um dos principais líderes judeus da França, Richard Prasquier, 66, se diz "aliviado" com a morte de Mohamed Merah. Presidente do Conselho Representativo das Instituições Judaicas na França, ele afirma, porém, que preferia Merah capturado vivo, para evitar sua transformação em "mártir".

Folha - Como o sr. viu o caso?
Richard Prasquier - Estou aliviado. Mas eu preferiria que ele tivesse sido capturado vivo e fosse julgado. O fato de ele ter resistido até o fim pode ser interpretado como heroísmo e fazer com que alguns o vejam como mártir, o que me preocupa. O que ele fez pode dar ideia a outros.

Ele tentou, por duas vezes, alistar-se no Exército francês e não foi aceito. O sr. acredita que esse evento provocou um sentimento de rejeição que pode tê-lo incentivado?
Talvez. Mas em todas as comunidades há pessoas que estão um pouco à margem da sociedade. O sentimento de injustiça pode ser uma reação humana, mas não justifica atos de barbárie.
A sociedade não pode se responsabilizar pelas atrocidades de Mohamed Merah.
Os grupos terroristas são os responsáveis, não é o nosso país. Isso não tem nada a ver com discriminação. Os autores dos atentados do 11 de Setembro vinham todos de famílias abastadas.
Bin Laden foi discriminado no seu próprio país? Ayman al Zawahiri [atual líder da Al Qaeda] é médico. É preciso parar com essas histórias!

O sr. e o reitor da Mesquita de Paris, Dalil Boubakeur, exprimiram-se lado a lado no jornal televisivo mais popular da França. Por que ter escolhido uma entrevista a dois?
Porque ele também luta contra esses radicais. Estamos do mesmo lado. É preciso evitar todo tipo de generalização com a religião muçulmana. O islã é uma religião como as outras. O perigo é o fundamentalismo islâmico, que é uma outra coisa.
Um muçulmano que leva uma vida normal e vai à mesquita na sexta-feira é um cidadão comum. O problema existe se na sexta-feira ele vai à mesquita e no sábado ele fabrica uma bomba.
A verdade é que existem organizações que fabricam pessoas fanáticas.

A chefe da diplomacia da União Europeia, Catherine Ashton, fez um paralelo entre o caso e o destino dos jovens na faixa de Gaza. Como o sr. reage?
Quando, na Segunda Guerra Mundial, os aliados tiverem que bombardear a França para ganhar a guerra contra os alemães, civis morreram. É triste, mas o que eles deveriam ter feito? Deixar os alemães ganharem?
Durante uma guerra, infelizmente, sempre há vítimas civis, inclusive crianças. Mas esse não é o objetivo de uma guerra.
Se uma pessoa não consegue fazer a diferença entre isso e um homem que pegou uma garotinha pelos cabelos para dar um tiro na sua cabeça, trata-se de uma imbecilidade imensa. É o caso de Catherine Ashton.

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