Índice geral Mundo
Mundo
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Viagem é mais um passo na distensão das relações

Igreja e Cuba se reaproximaram a partir dos anos 90, com João Paulo 2º e Fidel

Vaticano quer estatuto jurídico na ilha, e a ditadura cubana busca mais apoio ao fim
de embargo dos EUA

GINA MARQUES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE ROMA

A viagem do papa Bento 16 a Cuba visa atender a interesses específicos dos dois lados -enquanto a Igreja Católica quer chegar a um acordo para estabelecer seu estatuto jurídico na ilha, o regime cubano procura reforços ao apoio internacional contra os 50 anos de embargo dos EUA.

O estatuto jurídico é um tratado nos moldes do assinado em 2008 pelo então presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, e pelo papa. Entre outras coisas, reconhece a Igreja Católica como instituição com direito a patrimônio, a isenções e a imunidades, por ser filantrópica.

Seria um novo passo adiante no diálogo. Em 1961, dois anos após tomar o poder, o regime comunista nacionalizou todos os bens de organizações religiosas, e centenas de religiosos foram expulsos do país ou enviados a campos de trabalhos forçados (veja quadro nesta página).

As relações foram se distendendo progressivamente até a visita do ditador Fidel Castro ao Vaticano, em 1996, e a viagem do papa João Paulo 2º a Cuba, em 1998. Desde então, a igreja participa ativamente das negociações pela abertura do regime.

"A visita de João Paulo 2º a Cuba representou um grande passo para a liberdade religiosa. A partir daí, foram reforçados o diálogo e a cooperação. A visita de Bento 16 vai ajudar no desenvolvimento rumo à democracia", disse o secretário de Estado da Santa Sé, Tarcisio Bertone.

Ao mesmo tempo, como tradição em toda visita de Estado, a igreja evita se envolver nos conflitos internos dos anfitriões, o que torna a oposição ao regime um assunto delicado -recentemente, a arquidiocese de Havana rechaçou a ocupação de igrejas por um grupo de opositores.

Para o cardeal Achille Silvestrini, ex-responsável pelas relações internacionais do Vaticano, Bento 16 aplicará a estratégia do "diálogo com todos". Já o núncio apostólico em Cuba, Bruno Musarò, acredita que o papa "vai reconciliar todos os cubanos". "Não acredito que a visita será manipulada pelo governo", diz o cardeal Bertone.

Quanto ao embargo, o diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, Federico Lombardi, diz que a igreja diversas vezes se manifestou contra as sanções econômicas à ilha e mantém essa posição. Na visita de 14 anos atrás, João Paulo 2º disse: "Que Cuba se abra ao mundo, e que o mundo se abra a Cuba".

EXPECTATIVA

Bento 16 foi convidado a ir a Cuba quatro anos atrás, quando Raúl Castro assumiu a chefia do governo. A viagem começou a ser organizada pelo então núncio Giovanni Angelo Becciu no ano seguinte.

O encontro de Bento 16 com Fidel Castro ainda não foi confirmado. No Vaticano, muitos esperam que o líder cubano, que estudou em escolas jesuítas, volte a abraçar a Igreja Católica como sinal à América Latina e ao mundo.

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.