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Clóvis Rossi

Brasil e Índia, tudo a ver

Há uma extraordinária coincidência nos problemas de dois países tão diferentes

NOVA DÉLHI - Estou lendo o que posso sobre Índia, para tentar entender o país que abrigará a quarta cúpula dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) na semana que vem.

Mas sou constantemente obrigado a voltar ao início de cada texto para checar se leio sobre o Brasil ou sobre a Índia, tal o número de coincidências, por mais que sejam países de história, cultura e geografia completamente diferentes.

Comecemos pelo atacado: Brasil e Índia são as duas únicas democracias do Brics original (a África do Sul só entrou em 2011). A Índia se diz frequentemente "a maior democracia do mundo". E é. Mas a essa feliz coincidência juntam-se problemas e mais problemas.

No varejo: você já deve ter visto zilhões de reportagens sobre o mau estado das estradas brasileiras, inexoravelmente acompanhadas de queixas dos transportadores, certo? Então, leia Pulak Goswani, presidente de uma associação de transportadores indianos: "Devido às más estradas, a vida dos pneus se reduz a 15 mil quilômetros, quando deveria ser de 40 mil".

Pulemos para educação: você também deve estar cansado de envergonhar-se cada vez que sai um ranking internacional do setor. Pois na Índia, com toda a fama de sua área de tecnologia da informação, dos 7,5 milhões de engenheiros que se formam a cada ano, só 25% são diretamente empregáveis; aos restantes falta a devida qualificação.

Quantas vezes você ouviu o empresariado brasileiro queixar-se da invasão chinesa? "Os chineses vendem a preços que são 20% ou 25% inferiores aos nossos", ecoa Mukul Varna, diretor da maior fabricante indiana de bolas de futebol e rúgbi, na revista "India Today".

Pudera: para fazer 500 bolas/dia, os chineses empregam só 22 pessoas; os indianos, 100. Alguns dirão que é produtividade, outros preferirão exploração do trabalhador.

Você pensou em corrupção? Tema da manchete de sexta do "Times of India": relatório do que seria a CGU indiana segundo o qual a atribuição da exploração do carvão sem concorrência competitiva gerou "benefícios indevidos" no equivalente a US$ 1,067 bilhão.

Você não gostou do "pibinho" de 2,7% de 2011? Os indianos estão incomodados com um crescimento bem maior, mas declinante. O "pibinho" da Índia foi de suculentos 6,1% no trimestre outubro/dezembro, o terceiro de um ano fiscal que só termina em março. Mas, no trimestre correspondente do ano anterior, havia sido de 8,3%.

A "India Today", em reportagem de capa, diz que o ministro das Finanças, Pranab Mukherjee, precisa ter um toque de Midas para "içar a economia do pântano". Pântano com crescimento previsto de 6,9% para o ano fiscal 2011/12? De que precisaria então Guido Mantega depois dos 2,7% de 2011?

É tudo uma questão de escala: no Brasil, o mais recente levantamento põe 24% da população nas classes mais pobres (D e E). Na Índia, a porcentagem é algo maior (29,8%), mas significa 354 milhões de pessoas, ante 45,2 milhões no Brasil.

Seja como for, o B e o I dos Brics ainda precisam comer muito arroz com feijão para passarem de emergentes a potências.

crossi@uol.com.br

AMANHÃ EM MUNDO
Luiz Carlos Bresser-Pereira

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