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Mark Weisbrot

Uma grande mudança histórica

A perda do controle de Washington sobre o Banco Mundial vai beneficiar muitos milhões de pessoas

A abertura da disputa pela presidência do Banco Mundial representa uma mudança histórica cujo significado ainda não foi plenamente compreendido.

A perda do poder do FMI sobre a maioria dos países de renda média, algo que ocorre desde os anos 90, é provavelmente a modificação mais importante em 40 anos no sistema financeiro internacional. Apesar disso, tem passado em grande medida despercebida pela imprensa.

O FMI tinha sido o meio mais importante usado por Washington para influir sobre países em desenvolvimento. Ele pressionava os governos a adotar políticas "neoliberais", às vezes conhecidas como "consenso de Washington".

Incluíam abandonar as estratégias industriais e de desenvolvimento lideradas pelo Estado, adotar políticas fiscais e monetárias mais rígidas e, em muitos casos, a abertura indiscriminada ao comércio internacional e aos fluxos de capital.

Na América Latina especialmente, mas também em muitos outros países, essas políticas coincidiram com um colapso do crescimento e, portanto, da redução da pobreza.

O Banco Mundial vem sendo parte de um "cartel dos credores", junto com o FMI; eles pressionaram por mudanças para políticas neoliberais em muitos países. Isso ainda se aplica hoje, mas menos, pelo fato de tantos países de renda média terem deixado de emprestar do FMI.

A escolha pelo presidente Obama de Jim Yong Kim para a presidência do Banco Mundial representa uma ruptura enorme com o passado. Kim não é político nem banqueiro, como todos os 11 presidentes passados da instituição. E passou a maior parte de sua vida adulta lutando pela saúde pública: é cofundador da Partners in Health, organização bem-sucedida e progressista.

Embora Kim ainda seja a "escolha" dos EUA -preservando uma regra não escrita em vigor há 68 anos-, não é realmente a escolha de Washington, e as chances de ele fazer o que Washington mandar são tão pequenas quanto as de um candidato de qualquer nacionalidade.

É amplamente sabido que Obama queria indicar Larry Summers ou outro amigo político seu. A mudança radical foi provocada por uma série de fatores, entre eles a oposição de governos e da sociedade civil -além de a mídia ter começado a reposicionar a discussão, aceitando a reivindicação de "seleção aberta, baseada no mérito".

A candidatura insurgente do economista Jeffrey Sachs também exerceu um papel importante em modificar o debate, e Obama quis evitar qualquer controvérsia desnecessária num ano eleitoral.

O Brasil inscreveu José Antonio Ocampo, um dos economistas mais interessantes, bem informados e experientes do hemisfério e um crítico destacado das políticas neoliberais. E Ngozi Okonjo-Iweala, indicada por países africanos, é a ministra das Finanças da Nigéria e ex-diretora-gerente do Banco Mundial.

O novo presidente enfrentará batalhas árduas com os EUA e seus aliados no conselho de diretores do banco. Mas a perda do controle de Washington sobre o Banco Mundial é uma mudança enorme, que vai beneficiar muitos milhões de pessoas.

Tradução de CLARA ALLAIN

A partir de hoje, a coluna de MARK WEISBROT deixa de ser publicada em "Mundo".

AMANHÃ EM 'MUNDO'
Clóvis Rossi

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