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Ex-líder opositor, empresário diz que foi 'convertido' e hoje apoia regime na ilha

DA ENVIADA A HAVANA

A transição é um quebra-cabeças no qual não importa por que lado se começa a armar. O que importa é colocar todas as peças sobre a mesa.

É assim que o empresário cubano-americano Carlos Saladrigas responde a quem o acusa de oportunismo e de capitular diante do regime comunista por empregar sua influência e seu dinheiro para apoiar as reformas econômicas em Cuba.

Os ataques mais ferozes vêm dos que foram seus companheiros por anos: os anticastristas de Miami.

"É nossa responsabilidade como cubanos pôr as peças sobre a mesa. Esse quebra-cabeças já está sendo montado. Será uma questão de mais ou menos tempo. O problema é que o nosso tempo está acabando: o meu, o do governo, o de muitos de nós", diz à Folha Saladrigas, 61.

Sentado no lobby de um elegante hotel de Havana, o cubano, que foi, nos anos 90, o empresário latino mais próspero dos EUA, deixa ver os olhos mareados.

É quando conta momentos da sua vida marcados pelos desígnios da tortuosa relação entre a igreja e os Castro.

Saladrigas foi um dos 14 mil crianças e adolescentes da controversa Operação Peter Pan, armada para levá-los de Cuba aos EUA, a maioria sem os pais, para serem "salvos" do comunismo.

A mobilização, apoiada pela CIA, contou com uma campanha frenética de um padre de Miami e é considerada um dos maiores êxodos de menores desacompanhados do Ocidente.

O futuro empresário deixou a ilha aos 12 anos, sozinho. "Fiquei na casa de um familiar, que depois de um tempo me expulsou. Foi muito duro."

Seu pai conseguiria chegar a Miami, e Saladrigas começaria a trajetória de "self-made man", com secundário à noite, graduação em contabilidade e MBA em Harvard.

Por anos, o empresário foi um ferrenho anticastrista. Envolveu-se em conflitos como a volta a Cuba do menino Elián, que perdera a mãe numa travessia de balsa a caminho de Miami, em 2000.

A sua adoção da "teoria do quebra-cabeças" só aconteceria depois, na visita de João Paulo 2º a Cuba. Já "convertido", em janeiro de 2011 voltaria a Cuba, depois de 48 anos, como parte de uma missão humanitária católica.

Esta visita para ver o papa Bento 16 é a quarta a Cuba desde então. "Quando cheguei, foi uma emoção muito grande. A sensação foi: sou daqui."

(FM)

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