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Dilma cobra Obama por 'exportar' crise para os emergentes

Em reunião na Casa Branca, brasileira rejeita 'expansão monetária' americana sem equilíbrio de 'políticas fiscais'

Presidente dos EUA não fez comentário público a respeito da cobrança e afirmou interesse em 'projetos energéticos'

DE WASHINGTON
DA ENVIADA A WASHINGTON

Dilma Rousseff levou a "guerra cambial" para o Salão Oval em sua primeira visita oficial a Barack Obama e cobrou o americano pela desvalorização do dólar, afirmando que esse tipo de desequilíbrio é uma forma de os países ricos "exportarem" a crise para os emergentes.

Ao lado do anfitrião após 90 minutos de reunião no gabinete (o dobro do planejado) e antes de seguir para o almoço de trabalho, Dilma declarou à imprensa que manifestara a ele "preocupação com a expansão monetária sem que os países com superavit equilibrem isso a políticas fiscais" de investimento.

Repetiu a Obama, assim, a queixa que tem repetido mundo afora: os EUA e outros países, a seu ver, emitiram dinheiro demais durante a crise e investiram pouco ao adotarem uma política "tamanho único" de ajuste fiscal que freou os gastos mesmo de quem poderia gastar.

Isso, ressalta a presidente, torna os países emergentes um ímã de dólares, catapultando suas moedas e prejudicando a competitividade.

"Exporta-se para os países emergentes a crise que é dos desenvolvidos através da desvalorização das moedas dos países desenvolvidos."

Obama, que falara antes e mantivera seu discurso apenas nas vantagens da cooperação bilateral, permaneceu atento, coçando o queixo.

Mais tarde, Dilma diria que ele concordou com "parte" de suas colocações. De que os EUA estavam exportando a crise? "Não, mas ele admite que as políticas monetárias sem políticas fiscais de expansão provocam isso."

"MINHA AMIGA"

Às vésperas da reunião semestral do FMI (Fundo Monetário Internacional), em Washington, e com a expectativa de encontrar solução que amenize a crise, a economia dominou a reunião, a pauta da viagem, o pronunciamento dos presidentes, o comunicado conjunto e as declarações de Dilma.

Mas o tom geral foi amistoso. Questões mais espinhosas -como o cancelamento da compra de 20 jatos da Embraer pelos EUA por uma falha na licitação- ficaram de lado.

"É um prazer receber minha grande amiga, presidente Rousseff", disse Obama.

Na troca de afagos, vieram as quase-gafes: ele a parabenizou, com o antecessor Luiz Inácio Lula da Silva, por "conduzir o Brasil da ditadura à democracia" em seus governos; ela disse estar certa de que a situação econômica nos EUA seguirá melhorando sob a liderança de Obama nos próximos "meses e anos" (ele disputa reeleição em novembro).

Tanto Dilma quanto Obama insistiram na cooperação em educação e tecnologia e, sobretudo, pediram a ampliação dos investimentos mútuos -a Copa de 2014 e a Olimpíada de 2016 no Brasil foram usadas como atrativo.

E falaram em coro ao defender o compartilhamento de responsabilidades e a busca de soluções conjuntas.

"Temos pontos de convergência e pontos em que não convergimos", disse Dilma, dizendo que a relação é de "ótima qualidade". "Mas não podemos acreditar, principalmente as duas maiores democracias do continente, que todo mundo é o Joãozinho do Passo Certo. Não somos. Nem do passo errado."

(LUCIANA COELHO E VERENA FORNETTI)

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