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Análise

Eleição nos EUA dificulta negociações nucleares com iranianos

CLAUDIA ANTUNES
DO RIO

A campanha eleitoral nos EUA terá grande peso nas primeiras negociações diretas desde 2010 entre o Irã e o P5+1 (as cinco potências do Conselho de Segurança mais a Alemanha), que começam hoje em Istambul.

A questão é se o presidente Barack Obama, que disputa a reeleição, terá condições de "vender" na política interna um acordo que garanta a não militarização do programa nuclear iraniano, mas não signifique a pura e simples capitulação de Teerã.

Sob pressão das ameaças de ataque de Israel e das sanções recém-aprovadas pelos EUA e pela União Europeia, os iranianos indicaram que podem abrir mão de enriquecer urânio a 20% -nível que os aproxima dos 90% requeridos para a bomba.

Analistas afirmam, no entanto, que o país persa não fará concessões sem contrapartidas, entre elas a promessa de suspensão do embargo ao petróleo iraniano (programado para julho pelos europeus) e do veto americano a transações com o Banco Central do país.

"Para que haja entendimento, parece inevitável que uma redução das atividades nucleares iranianas seja acompanhada de uma redução das sanções", escreveu Trita Parsi, do Conselho Nacional Iraniano-Americano.

O problema, continua Parsi, é que nos EUA "quase não há espaço político" para isso, uma vez que a maioria das sanções foi imposta pelo Legislativo -e a oposição republicana, beligerante com o Irã, tem maioria na Câmara.

Gary Sick, da Universidade Columbia, lembra que a barganha possível para pôr fim às dúvidas sobre os objetivos nucleares iranianos está na mesa há tempos.

Por ela, o país persa manteria alguma atividade de enriquecimento, em nível compatível com fins pacíficos. Aceitaria, ao mesmo tempo, inspeções internacionais mais abrangentes.

Foi essa a base do acordo negociado há dois anos por Brasil e Turquia: o Irã enviaria ao exterior parte de seu estoque de urânio a 5%, recebendo em troca combustível para seu reator de pesquisas médicas (que requer enriquecimento a 20%).

Quando o acordo foi rejeitado pelo Ocidente, o Irã passou a enriquecer a 20% na usina de Fordo, que fica sob uma montanha e é menos vulnerável a ataques.

Nesse quadro, Washington vazou informações contraditórias nos últimos dias.

De um lado, foi dito, sem confirmação oficial, que Obama mandou mensagem ao líder religioso Ali Khamenei na qual se disse disposto a aceitar um projeto nuclear pacífico em troca de demonstrações práticas da afirmação do aiatolá de que o Irã "jamais buscará armas nucleares".

Do outro, informou-se da exigência de que o Irã desative Fordo (item antes mencionado pelo governo israelense). Se essa precondição for posta na mesa, pode vir a enterrar as novas negociações, até porque a usina já está sob inspeção da AIEA, a agência atômica da ONU.

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