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Paul Krugman Canibalizando o futuro Os EUA costumavam pensar grande sobre o futuro; hoje os únicos grandes projetos dos políticos são guerras Uma regra geral da política moderna é a de que as pessoas que mais falam sobre as futuras gerações -declarando solenemente que o fardo de nossas dívidas pesará sobre nossos filhos- são, na prática, aquelas que mais se dispõem a sacrificar o futuro em troca de ganhos políticos em curto prazo. O princípio pode ser visto em ação na proposta orçamentária dos republicanos da Câmara dos Deputados, que começa com advertências sombrias sobre os malefícios dos deficit e logo apela por cortes de impostos que os tornariam ainda maiores. E também pode ser visto nas ações de Chris Christie, o governador de Nova Jersey. A grande decisão de Christie foi tomada unilateralmente em 2010: o cancelamento das obras de um túnel ferroviário conectando Nova Jersey a Nova York. Ao fazê-lo, Christie alegou que estava exercendo a responsabilidade fiscal, enquanto seus críticos disseram que o cancelamento era apenas desculpa para usar os fundos assim liberados de outra maneira. Agora, o Serviço de Contas Governamentais, organização de auditoria do governo federal americano, divulgou seu relatório sobre a controvérsia e confirma o que os críticos do governador alegavam. Boa parte da cobertura de imprensa sobre o relatório tem por foco as provas de que Christie fez declarações falsas sobre o financiamento e os custos do túnel. O governador afirmou que os custos projetados estavam subindo acentuadamente; o relatório informa que isso não era verdade. Ele também alegou que seu Estado teria de cobrir 70% do custo de um projeto que beneficiaria primordialmente os moradores de Nova York; na realidade, a maior parte do financiamento viria ou do governo federal ou da Port Authority of New York and New Jersey, que arrecada receita junto a moradores de ambos os Estados. Mas, embora seja importante documentar a mendacidade de Christie, é ainda mais importante compreender a total insensatez de sua decisão. O novo relatório destaca o quanto o projeto do túnel era necessário para recuperar uma importante defasagem. A demanda por serviços de transporte coletivo está em alta nos EUA, refletindo tanto o crescimento da população quanto uma mudança de preferências. Mas a conexão ferroviária entre Nova Jersey e Nova York é realizada por apenas dois túneis de pista única construídos um século atrás -e que costumam funcionar em plena capacidade a cada hora do rush. Como afirmar que essa situação não requer investimento novo? O governador posa como homem disposto a fazer escolhas duras para o futuro, mas sacrificou o futuro em busca de uma vantagem política pessoal. Serviu aos preconceitos do eleitorado nacional republicano, ainda que estes contrariem as necessidades de seu Estado; preocupou-se mais com evitar embaraços de uma promessa irresponsável de campanha do que com atender a uma necessidade pública urgente. Infelizmente, seu comportamento não poderia ser mais típico hoje. Os EUA costumavam ser um país que pensava grande sobre o futuro. Hoje, porém, os únicos grandes projetos que os políticos parecem dispostos a empreender -e sem se preocupar com o custo- são guerras. Tradução de PAULO MIGLIACCI
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