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Exército sequestra premiê da Guiné-Bissau

Carlos Gomes é atacado em sua própria casa durante golpe de Estado no pequeno país africano lusófono

Tráfico de cocaína, corrupção e disputas por poder enfraquecem o país, visto como um "narco-Estado"

JERONIMO GIORGI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, NA GUINÉ-BISSAU

Faltando horas para o início da campanha eleitoral para o segundo turno das eleições presidenciais da Guiné-Bissau, o primeiro-ministro e candidato favorito para vencer no dia 29 de abril, Carlos Gomes, foi atacado e sequestrado em sua própria casa.

Dessa maneira, novamente o pequeno país lusófono foi vítima de sua fragilidade institucional, em que a corrupção e a luta pelo poder afetam as Forças Armadas e desestabilizam o primeiro "narco-Estado" do mundo.

O bloqueio por parte da oposição ao segundo turno eleitoral, em que Gomes enfrentaria Kumba Yala, após uma suposta fraude no primeiro turno, já tinha feito soar todos os alarmes no país.

Alguns dias atrás, detectou-se também um grande mal-estar nos altos escalões militares devido à presença no país de uma missão do Exército de Angola.

Embora o grupo golpista tenha assumido o controle da rádio e da televisão públicas na noite de anteontem, "ainda não se sabe exatamente quem está no poder", comentou Peter Thompson, chefe da missão de observadores do Reino Unido na Guiné-Bissau.

"Em um primeiro momento, ouvimos disparos que poderiam ser de granadas ou de bazucas. No entanto, durante o dia, a situação nas ruas foi de muita calma."

Guiné-Bissau passou por vários golpes de Estado nos últimos anos. O último havia ocorrido em 2009, com o assassinato do então presidente Nino Vieira, após a morte de seu inimigo e responsável máximo pelo Exército, Tagme Na Wai, em um atentado.

A tentativa mais recente de derrubar o governo havia ocorrido há apenas quatro meses, terminando com a prisão de outro grupo militar.

Já havia receios sobre a situação política da Guiné-Bissau. Mas foi o assassinato de Vieira que acabou por mobilizar a comunidade internacional em torno dessa nação.

No mesmo ano, teve lugar a Cúpula de Praia, na qual foi lançado um plano para a reforma da segurança, buscando reduzir drasticamente o Exército. Desde então, o plano vem sendo fomentado pela União Europeia, pelo Brasil, por Portugal e por Angola.

COCAÍNA

O tráfico é visto como um dos responsáveis pela desestabilização da Guiné-Bissau.

A impunidade decorrente da fragilidade institucional e o fato de o litoral guineense ter mais de 80 ilhas foram os motivos que levaram os cartéis a desembarcar especialmente nesse país, um dos cinco mais pobres do mundo.

"É um problema sério", afirma o secretário do Interior do país, Octavio Alvez. "Muitas pessoas ligadas ao Exército e também à polícia estão envolvidas no tráfico."

Apesar dos esforços, a tentação de ganhar dinheiro fácil em um país em que o PIB equivale a menos de três toneladas da droga na Europa é um risco permanente.

"É preciso evitar que o Estado seja capturado pelo narcotráfico", afirma Alvez.

Tradução de CLARA ALLAIN

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