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Escândalo leva PC chinês a expor fraturas Após expurgar sem alarde o líder em ascensão Bo Xilai, governo rompe silêncio e o acusa de "sérias" violações Rachadura na cúpula do regime torna-se pública no momento em que a China prepara uma transição no poder
DE PEQUIM Às vésperas de trocar sua cúpula pela primeira vez em uma década, o escândalo envolvendo o líder político Bo Xilai fez o Partido Comunista abandonar seu esforço de várias décadas no sentido de manter a aparência de unidade e promover uma transição previsível e sem surpresas. Na última terça-feira, o governo chinês rompeu o silêncio: acusou Bo Xilai de "sérias" violações -sem especificar quais- e confirmou que a sua mulher é suspeita de envolvimento na morte de um empresário britânico. Trata-se da maior reviravolta política na China desde o movimento pró-abertura política em 1989, que levou ao massacre de estudantes na praça da Paz Celestial e ao expurgo de membros do PC. Desde aquele ano até a queda de Bo Xilai, o partido já havia afastado outros quatro membros do Politburo, colegiado de 25 pessoas que só perde em importância para o Comitê Permanente, com nove integrantes. Mas Bo é, de longe, o caso mais espetacular, pelas suas credenciais e ambições. A começar pela origem familiar: seu pai, Bo Yibo, foi herói da revolução comunista de 1949 e um dos "oito imortais", grupo que controlou a política nos anos 80. Até há pouco estrela em ascensão, Bo Xilai procurava ganhar projeção entre os chineses num momento em que a cúpula do partido, sem a presença dos líderes históricos Mao Tsé-tung e Deng Xiaoping, professa discrição e decisões colegiadas. À vontade diante das câmeras, Bo Xilai passou a vender a imagem de um líder que procurava resgatar os valores tradicionais do partido por meio do uso da simbologia maoista e pela suposta intolerância à corrupção. A sua ação mais conhecida foi uma enorme campanha contra a máfia de Chongqing, região que passou a governar em 2007. Foram cerca de 1.500 prisões, muitas consideradas arbitrárias. A ofensiva rendeu uma imagem positiva na opinião pública, irritada com os sucessivos casos de corrupção envolvendo dirigentes. Mas também deu a Bo Xilai seu maior inimigo dentro do partido: Wang Yang, outro membro do Politburo e chefe do partido na província de Guangdong, a mais próspera região da China e vizinha a Hong Kong. Wang, antecessor de Bo Xilai em Chongqing, viu várias pessoas próximas a ele serem presas e passou a ser visto como tolerante com a máfia. Agora, Wang viu aumentarem suas chances de entrar no Comitê Permanente, que renovará sete cadeiras e deve ser encabeçado pelo atual vice-presidente Xi Jinping, em substituição a Hu Jintao. Nos últimos anos, a disputa acabou gerando a criação dos termos "modelo de Guangdong", com uma imagem de mais liberdade econômica e tolerância política, e o "modelo de Chongqing", considerado mais estatista. De fato, Chongqing, sob Bo Xilai, aumentou os investimentos por meio de suas empresas estatais. Um dos maiores exemplos é a empresa Chongqing Grain, que está investindo US$ 1,2 bilhão para processar soja na Bahia. Mas Bo Xilai não é refratário a empresas privadas. Em junho, durante um fórum na cidade a que a reportagem da Folha assistiu, ele ressaltou que, das 500 maiores empresas do mundo na lista da revista "Forbes", 54 têm investimentos no município. Tampouco sua vida pessoal segue o ascetismo de Mao.Seu filho, Bo Gagua, passou metade da vida em escolas caras britânicas e dos EUA. Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros |
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