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Escândalo leva PC chinês a expor fraturas

Após expurgar sem alarde o líder em ascensão Bo Xilai, governo rompe silêncio e o acusa de "sérias" violações

Rachadura na cúpula do regime torna-se pública no momento em que a China prepara uma transição no poder

Andy Wong - 11.março.2012/Associated Press
Bo Xilai no Congresso do Povo, em março, antes de cair em desgraça, na maior reviravolta política da China desde 1989
Bo Xilai no Congresso do Povo, em março, antes de cair em desgraça, na maior reviravolta política da China desde 1989

FABIANO MAISONNAVE
DE PEQUIM

Às vésperas de trocar sua cúpula pela primeira vez em uma década, o escândalo envolvendo o líder político Bo Xilai fez o Partido Comunista abandonar seu esforço de várias décadas no sentido de manter a aparência de unidade e promover uma transição previsível e sem surpresas.

Na última terça-feira, o governo chinês rompeu o silêncio: acusou Bo Xilai de "sérias" violações -sem especificar quais- e confirmou que a sua mulher é suspeita de envolvimento na morte de um empresário britânico.

Trata-se da maior reviravolta política na China desde o movimento pró-abertura política em 1989, que levou ao massacre de estudantes na praça da Paz Celestial e ao expurgo de membros do PC.

Desde aquele ano até a queda de Bo Xilai, o partido já havia afastado outros quatro membros do Politburo, colegiado de 25 pessoas que só perde em importância para o Comitê Permanente, com nove integrantes. Mas Bo é, de longe, o caso mais espetacular, pelas suas credenciais e ambições.

A começar pela origem familiar: seu pai, Bo Yibo, foi herói da revolução comunista de 1949 e um dos "oito imortais", grupo que controlou a política nos anos 80.

Até há pouco estrela em ascensão, Bo Xilai procurava ganhar projeção entre os chineses num momento em que a cúpula do partido, sem a presença dos líderes históricos Mao Tsé-tung e Deng Xiaoping, professa discrição e decisões colegiadas.

À vontade diante das câmeras, Bo Xilai passou a vender a imagem de um líder que procurava resgatar os valores tradicionais do partido por meio do uso da simbologia maoista e pela suposta intolerância à corrupção.

A sua ação mais conhecida foi uma enorme campanha contra a máfia de Chongqing, região que passou a governar em 2007. Foram cerca de 1.500 prisões, muitas consideradas arbitrárias.

A ofensiva rendeu uma imagem positiva na opinião pública, irritada com os sucessivos casos de corrupção envolvendo dirigentes.

Mas também deu a Bo Xilai seu maior inimigo dentro do partido: Wang Yang, outro membro do Politburo e chefe do partido na província de Guangdong, a mais próspera região da China e vizinha a Hong Kong.

Wang, antecessor de Bo Xilai em Chongqing, viu várias pessoas próximas a ele serem presas e passou a ser visto como tolerante com a máfia.

Agora, Wang viu aumentarem suas chances de entrar no Comitê Permanente, que renovará sete cadeiras e deve ser encabeçado pelo atual vice-presidente Xi Jinping, em substituição a Hu Jintao.

Nos últimos anos, a disputa acabou gerando a criação dos termos "modelo de Guangdong", com uma imagem de mais liberdade econômica e tolerância política, e o "modelo de Chongqing", considerado mais estatista.

De fato, Chongqing, sob Bo Xilai, aumentou os investimentos por meio de suas empresas estatais. Um dos maiores exemplos é a empresa Chongqing Grain, que está investindo US$ 1,2 bilhão para processar soja na Bahia.

Mas Bo Xilai não é refratário a empresas privadas. Em junho, durante um fórum na cidade a que a reportagem da Folha assistiu, ele ressaltou que, das 500 maiores empresas do mundo na lista da revista "Forbes", 54 têm investimentos no município.

Tampouco sua vida pessoal segue o ascetismo de Mao.Seu filho, Bo Gagua, passou metade da vida em escolas caras britânicas e dos EUA.

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