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Análise Taleban

Ataques são aviso dos insurgentes a governo e Ocidente

Com tática e precisão que impressionam, as ações demonstram a capacidade do grupo fundamentalista

Ao poupar ao máximo civis, o Taleban flexiona músculos, de olho na negociação política adiante

IGOR GIELOW
SECRETÁRIO DE REDAÇÃO DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O aspecto mais contundente dos espetaculares ataques terroristas de ontem no Afeganistão é sua precisão.

Não são meros atentados indiscriminados nos quais civis inocentes morrem às pencas, mas sim um aviso ao agonizante governo de Hamid Karzai e ao Ocidente sobre a capacidade dos insurgentes.

Foi coisa de profissionais bem equipados. A região atingida em Cabul, por exemplo, é a mais policiada de todo o país. Não se anda por mais de um quarteirão sem esbarrar em algum tipo de bloqueio.

E a tática empregada impressiona. Se é fácil usar como base prédios em construção, cortesia do boom imobiliário da capital afegã, o mesmo não pode ser dito de utilizar hotéis de luxo que parecem mais fortalezas.

E a ação ocorre logo depois de Karzai admitir que pode sair do poder antes da retirada final das forças da Otan, prevista para 2014.

Ao poupar ao máximo civis, algo impossível de acontecer em um ataque com carro-bomba, o Taleban flexiona músculos de olho na negociação política à frente.

O que é mais desconcertante, contudo, é que talvez estejamos errados em chamar os atacantes de "o Taleban".

Há muito o antigo grupo fundamentalista de mulá Omar, chutado do poder pelos americanos na esteira do 11 de Setembro, deixou de ser monolítico.

Certamente ontem havia a presença de elementos da rede terrorista Haqqani, que já havia demonstrado a mesma eficiência em ataques simbólicos ocorridos em Cabul no ano passado.

A mesma rede pode estar coligada ao Taleban paquistanês em uma ação ainda mais audaciosa também ocorrida ontem, quando foram libertados centenas de prisioneiros de uma cadeia localizada nas áreas tribais do vizinho Paquistão.

Isso borra definições, já que o Taleban afegão é apoiado pelos serviços secretos do Paquistão. O país, por sua vez, combate a versão local do Taleban, que foi alimentada por seus espiões mas saiu de controle há muito tempo.

Nesse cipoal de lealdades cruzadas, parece restar pouco mais ao Ocidente do que anunciar repetidamente que está tudo pronto para seus soldados voltarem para casa.

O problema é que a sucessão de Karzai invariavelmente terá a marca do Taleban e de seus associados, embora aí haja o problema de que o afegão médio tende a rejeitar os elementos estrangeiros que muitas vezes encontram abrigo em grupos como a rede Haqqani.

Seja como for, tudo o que o Taleban tem de fazer agora é mandar seus mortíferos sinais de vida e esperar o desenrolar do processo político.

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