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Le Pen anuncia voto em branco no 2º turno

Fiel da balança, líder da extrema direita decide não endossar nenhum candidato e libera a escolha de seus eleitores

Decisão reduz chances de o presidente Nicolas Sarkozy superar o socialista François Hollande na disputa

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A PARIS

Marine Le Pen, a líder da extrema direita francesa, pode ter aplicado o beijo da morte na candidatura do presidente Nicolas Sarkozy à reeleição, ao anunciar que votará em branco domingo, no segundo turno da eleição.

Sarkozy, que, no primeiro turno, ficou apenas 1,45 ponto percentual atrás do socialista François Hollande, baseou toda a sua campanha para o turno final em uma virulenta guinada para a direita, assumindo mais e mais o discurso anti-imigrantes e islamófobo de Le Pen.

Nem assim convenceu a líder da Frente Nacional, que obteve 6,4 milhões de votos (17,9%) na primeira rodada. Ao contrário, em seu discurso na Ópera, em Paris, Le Pen acusou o presidente de ter praticado um ato de "suprema escroqueria eleitoralista".

Não é difícil calcular o dano dessa posição para as já reduzidas chances de Sarkozy superar Hollande, líder em todas as pesquisas.

Na mais recente delas, o instituto IFOP mostra o presidente sete pontos atrás do socialista (53,5% a 46,5%). Em quatro dias, Sarkozy diminuiu três pontos a vantagem de Hollande. É ainda dentro da margem de erro, mas não deixa de ser animador para o presidente.

Mas o discurso de Le Pen turva essa boa notícia: a mesma pesquisa mostra que, até ontem, 46% dos eleitores dela tendiam a votar em Sarkozy, 15% em Hollande e 39% preferiam abster-se.

É óbvio que uma palavra de ordem pró-Sarkozy aumentaria o total de seus eleitores que votariam agora no presidente. Já o anuncio do voto em branco tende a engrossar a massa já disposta a se abster, o que, em tese, deixa Sarkozy sem munição.

Antes, Sarkozy gabou-se de ter mobilizado 200 mil pessoas em comício no Trocadéro, esplanada que se abre para a Torre Eiffel. Mas o jornal "Le Monde" ponderou que ali não cabe tanta gente.

Sarkozy voltou a fazer um discurso ultranacionalista, entremeado de uma retórica dos anos em que o comunismo era o inimigo número 1 dos conservadores.

Chegou a pedir que os sindicatos deixassem as bandeiras vermelhas para erguer as da França nas comemorações do Dia do Trabalho.

De fato, havia muitas bandeiras vermelhas na marcha sindical, que a polícia reduziu a 48 mil pessoas, quando os organizadores falavam em 250 mil. Mas eram as bandeiras tradicionais da CGT (Confederação Geral do Trabalho), do PCF (Partido Comunista Francês) e as mais recentes da Frente de Esquerda.

Bernard Thibault, secretário-geral da CGT, apoia Hollande, para "derrotar o presidente".

É natural: o sindicalismo reescreve assim a frase mais emblemática do então candidato Sarkozy em 2007 ("trabalhar mais para ganhar mais"): "O resultado do quinquênio Sarkozy é trabalhar mais para ganhar menos, é trabalhar mais tempo para ter aposentadorias menores", fulmina Thibault.

Os fatos lhe dão razão: o desemprego aumentou 35% no período Sarkozy ou 2,8 milhões de pessoas a mais que, em vez de trabalhar mais para ganhar mais, simplesmente não trabalham nada e não ganham nada, exceto o seguro-desemprego.

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