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Análise China

País ainda não vê razão para pacote de estímulo

Os dados comerciais mensais são muito voláteis; é imprudente tirar conclusões definitivas a partir deles

PERGUNTA QUE CERTAMENTE TERÁ IMPACTO SOBRE CRESCIMENTO É QUANDO SERÃO LIBERALIZADAS AS TAXAS DE JUROS

MARCOS CARAMURU DE PAIVA
ESPECIAL PARA A FOLHA

O resultado comercial da China em abril, embora melhor do que o de março, confirma tendências previsíveis.

A demanda interna está desaquecida, os investimentos não estão crescendo como antes, daí a redução das importações. Ao mesmo tempo, as exportações para a Europa estão sofrendo o impacto da crise (o comércio com a Europa cresceu apenas 0,3% em abril), mas o comércio com os EUA vai bem (crescimento de 9,2%) e os negócios com mercados emergentes também.

Os embarques relacionados ao Brasil, por exemplo, de acordo com as estatísticas, cresceram 14,4%, taxa bem mais elevada do que o crescimento das exportações para o resto do mundo (4,9%).

As perguntas mais imediatas em torno do anúncio são mais ou menos as mesmas que têm sido formuladas nos meses recentes.

Haverá pacote adicional de estímulo econômico para compensar exportações mais fracas? O renminbi [moeda chinesa] vai, no curto prazo, ser depreciado para dar maior competitividade aos exportadores? As respostas também estão mais ou menos dadas.

Não parece haver razão para estímulo além de alguma redução do compulsório.

Os dados de crescimento do primeiro trimestre (8,1%) estão acima da meta oficial: 7,5%. Até que novos números surjam, não há que se esperar mudanças de rumo. O governo já deu indicações de que aliviaria o compulsório. A inflação em abril, 3,4%, abaixo dos 3,6% registrados em março e abaixo da meta oficial de 4%, oferece espaço para isso. Quanto ao câmbio, a decisão de alargar a banda de flutuação para 1%, desde 16 de abril passado, está mostrando que o câmbio pode flutuar para cima e para baixo.

Esta semana o renminbi desvalorizou-se. Houve quem atribuísse o resultado ao fato de que na feira de Cantão, indicador informal dos negócios externos, fecharam-se 2,3% menos contratos do que na feira de maio de 2011 e menos 4,8% do que na feira de outubro passado. Mas há um reducionismo nessa análise.

Os dados comerciais mensais são voláteis. É imprudente tirar conclusões definitivas a partir deles.

As grandes perguntas para o longo prazo -se a China, de fato, vai caminhar na direção de uma economia menos dependente das exportações industriais, com maior força do consumo interno e maior participação dos serviços no PIB, ainda não têm resposta segura.

Nem mesmo com outros números de curto prazo, como os que mostraram que o crescimento dos serviços reduziu-se em abril.

Uma pergunta em discussão, que certamente terá impacto sobre o crescimento no prazo mais longo, é quando serão liberalizadas as taxas de juros. Hoje as taxas podem flutuar apenas dez pontos percentuais acima e abaixo da taxa de referência oficial: 6,56%. Ou seja, não há verdadeira competição bancária.

O presidente do Banco Central, Zhou Xiaochuan, declarou recentemente que está esperando o momento certo. Com a inflação ainda pressionando e a crise financeira internacional em curso não é possível fazer muito, avaliou.

Mas há quem argumente que o momento é agora.

MARCOS CARAMURU DE PAIVA é sócio e gestor da KEMU Consultoria, com sede em Xangai. Foi embaixador na Malásia e diretor do Banco Mundial. Colabora com o blog Vista Chinesa, da Folha.com

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