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Análise

Europa esqueceu que disputava espaço com os emergentes

EVALDO ALVES
ESPECIAL PARA A FOLHA

A União Europeia, que constitui a maior e mais ousada proposta de integração econômica, enfrenta a maior crise desde a sua criação pelo Tratado de Roma de 1957.

Isso em virtude da necessidade de tornar as empresas europeias mais competitivas do que as dos Estados Unidos, à medida que se visualizava a ameaça americana com seus produtos mais baratos e de maior qualidade como o maior desafio a ser enfrentado.

No entanto, nos últimos anos, esqueceu-se de que a real ameaça para o perfil produtivo europeu vinha dos países emergentes, como a China, a Índia, a Coreia do Sul e o Brasil.

Essa visão desfocada causou a emigração de empresas do Velho Mundo para os países emergentes, provocando o aumento do desemprego, somado ao crescimento econômico pífio.

Com a onda de desregulamentação dos mercados produtivos e financeiros no mundo, os governos passaram a contar com ofertas de crédito a taxas de juros baixas, que prevaleciam nos países desenvolvidos.

Por esse motivo, atualmente todos os países europeus encontram-se extremamente endividados.

Alguns estão no limite da declaração de moratória, como é o caso da Grécia.

Recentemente, Portugal e Irlanda renegociaram suas dívidas, e a Itália teve de mudar seu governo e promover alterações no seu orçamento fiscal.

Como a carga tributária já atingiu limites difíceis de ultrapassar, a proposta de cortar alguns gastos públicos aparece como a solução mais viável. Essa posição está sendo fortemente apoiada pela Alemanha, que em última análise é quem está bancando o desajuste fiscal europeu.

Já foi aprovado o acordo que obriga todos os países a cumprir o equilíbrio fiscal, que é o chamado pacto de austeridade.

No caso da Grécia, o não cumprimento já provocou a retenção do total de € 1 bilhão que seria repassado no âmbito do Programa de Estabilização, no valor de € 5,2 bilhões, como contrapartida de várias medidas de ajuste fiscal. O não cumprimento desse acordo de ajuste pode custar à Grécia a sua exclusão da área do euro.

Mesmo que sejam efetuados todos os ajustes do pacto de austeridade, é fundamental pensar na necessidade do crescimento econômico, por meio do aumento da produtividade do setor privado, para diminuir o flagelo da estagnação e do desemprego, sem o qual a crise da Europa vai transformar-se numa doença econômica de caráter cíclico.

EVALDO ALVES é professor de economia internacional da FGV/EAESP, Escola de Administração de Empresas de São Paulo

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