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Os monólogos de Cristina

Presidente da Argentina abusa dos discursos, foge de entrevistas e nunca fala de rivais ou da crise

SYLVIA COLOMBO
DE BUENOS AIRES

A presidente Cristina Kirchner não dá entrevistas nem realiza reuniões ministeriais. Em compensação, não deixa de se fazer ouvida e de entrar na casa dos cidadãos com uma frequência enorme.

Só no último mês, foram 12 discursos, oferecidos nas mais distintas ocasiões. Pode ser a inauguração de uma hidrelétrica, um ato de memória a seu falecido marido, Néstor Kirchner, ou a abertura de um salão na Casa Rosada dedicado à sua heroína, Evita Perón.

Também são palco para suas mensagens as aberturas de fábricas ou sedes de empresas privadas, como aconteceu com as novas instalações da Pirelli e dos supermercados Coto.

Como a presidente tem se isolado cada vez mais na cúpula do governo, conversando apenas com os funcionários mais próximos, como o secretário Legal e Técnico Carlos Zannini ou o chefe do serviço secreto, Hector Icazurriaga, os discursos são a forma por meio da qual Cristina dá aos ministros notícias sobre alterações no funcionamento de suas pastas.

Grupos de direitos humanos, em especial as Mães e Avós da Praça de Maio, são figuras constantes. Hebe de Bonafini, 83, e Estela de Carlotto, 81, líderes das organizações, estão em quase todas as ocasiões, mesmo quando a ditadura está longe de ser o tema dos encontros.

Fechada no luto ao qual se impôs desde a morte do marido, em outubro de 2010, Cristina mantém um padrão em seus discursos. Faz muitas referências ao companheiro, elogia o que chama de "modelo"-o modo como governa, com maior presença do Estado na economia-, ataca os meios de comunicação e as potências estrangeiras e reforça que sua gestão é "nacional" e "popular".

Recentemente, mais de 200 jornalistas se reuniram no programa de Jorge Lanata, "Periodismo para Todos", para pedir que a presidente fale com a imprensa.

Estavam lá colunistas, repórteres, apresentadores e o diretor de Redação do "Clarín", Ricardo Kirschbaum. Carregavam faixas dizendo "Queremos perguntar" e "Não à mídia governista".

Formularam dez perguntas que gostariam de fazer, entre elas explicações sobre as acusações de corrupção e tráfico de influências do vice, Amado Boudou.

Não houve resposta do governo. Logo depois, Cristina embarcou para Angola.

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Presenças constantes:

Ministros, governadores, deputados e senadores governistas, líderes das Mães e Avós da Praça de Maio e de outros grupos de direitos humanos

Ausências:

Jornalistas do "Clarín" e "La Nación", com quem está em guerra, o líder sindical Hugo Moyano, com quem rompeu, Maurício Macri, prefeito de Buenos Aires, seu principal rival

Duração dos discursos em média:

20 a 40 minutos

Freqüência:

10 vezes por mês

Ocasiões:

Inaugurações de obras, espaços da Casa Rosada ou outras que levem o nome de "Néstor Kirchner", também acontecem em inaugurações de instalações de empresas

Figurino:

Sempre de vestido preto e colar vistoso

Presenças ilustres:

Os atores Pablo Echarri, Leonardo Sbaraglia e Luis Machín, os roqueiros Charly Garcia e Andrés Calamaro

Palavras proibidas:

- inflação

- segurança

- crise

- recessão

Militância:

La Cámpora (grupo jovem), Movimiento Evita e Juventude Peronista vão a todos os eventos

Palavras mais repetidas:

Malvinas - pátria - modelo - colonialismo - Néstor - todos e todas - nacional - popular - história - meios - direitos humanos

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