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Limite à compra de dólar gera reação na Argentina

Para segurar divisa, governo declara guerra à 'obsessão' do país com moeda

Analistas dizem que a política de Cristina é um sinal de que precisa se preparar para freada na economia do país

SYLVIA COLOMBO
DE BUENOS AIRES

A decisão de aumentar a restrição à compra de dólares é um sinal de que o governo argentino se deu conta de que a economia do país está entrando em recessão, segundo analistas ouvidos pela Folha.

Os números da economia desde o início do ano são desanimadores. O país deverá crescer 3,5%, menos da metade de 2011. Houve queda de produção em áreas importantes como a indústria de automóveis e a construção.

A inflação, segundo consultorias privadas, deve chegar aos 30% (para o Indec, o IBGE argentino, é 9%). O país vem caindo no ranking de investimentos estrangeiros.

Porém, o problema que o governo ataca de modo mais frontal é o da fuga de capitais, que atingiu US$ 80 bilhões desde o começo da gestão Cristina Kirchner (2007).

Isolado do mercado financeiro internacional desde o calote da dívida externa, em 2001, o país não tem outro modo de obter dólares.

Por um lado, o governo acirrou o controle das importações, com regulamentação que exige autorização para cada compra emitida pela Secretaria de Comércio Interior.

Por outro, desde o fim do ano passado, adota medidas para restringir a compra de dólares pela população.

A norma mais recente é a que exige que pessoas que queiram comprar a moeda por meio de operadora para viajar tenham de dizer para onde vão, quando voltam e quanto pretendem gastar.

"Estamos vivendo um 'corralito verde', já vimos esse filme antes e terminou mal", disse à Folha Alfonso Prat Gay, deputado da Coalición Cívica e ex-presidente do Banco Central, referindo-se à crise de 2001, quando o governo restringiu o acesso de poupadores às suas contas ("corralito").

"O poder de compra de um dólar hoje na Argentina é menor do que em 2001, voltamos ao princípio do filme. A diferença é que, por enquanto, o governo tem com o que ocultar o problema usando as reservas", completou Prat Gay, referindo-se ao crescimento obtido nos últimos anos e ao grande volume de soja comprado pela China.

"A desaceleração do Brasil e a crise mundial são fatores que potencializam a crise, porém, as decisões de política interna são as que mais estão afetando. Trata-se de uma recessão com motivos domésticos", diz Nicolás Dujovne.

O economista cita como motivos a falta de políticas para o controle da inflação, o excesso de subsídios à energia e ao transporte e o não-investimento em produção.

BATALHA CULTURAL

Nos últimos dias, os kirchneristas saíram para defender o controle do dólar.

O chefe de gabinete, Juan Manuel Abal Medina, disse que os argentinos deveriam "entender que a moeda argentina é o peso". A presidente Cristina Kirchner diz que empreende uma "batalha cultural" contra a obsessão dos argentinos pelo dólar.

Devido ao histórico de inflações, o dólar é o principal meio de investimento da população, que não confia no sistema bancário e no peso. A Argentina é o segundo país do mundo, depois dos EUA, onde mais circulam dólares, US$ 1.300 por habitante.

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