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Refugiados mudam a vida na fronteira

Sem conseguir trabalho, muitas mulheres sírias acabam se prostituindo na Turquia por pouco mais de R$ 10

Cai número de turistas em Antakya, centro de peregrinação de católicos que visitam a igreja de São Pedro

Tolga Bozoglu - 18.mar.2012/Efe
Dois refugiados sírios cruzam a fronteira com a Turquia na região de Antakya, que já vê queda no número de turistas
Dois refugiados sírios cruzam a fronteira com a Turquia na região de Antakya, que já vê queda no número de turistas

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM ANTAKYA E DE GAZIANTEP (TURQUIA)

A fronteira da Turquia com a Síria é uma espécie de Louvre a céu aberto para apreciadores de mosaicos romanos.

O estilo de arte em que pastilhas coloridas compõem uma imagem abunda nas ruínas de cidadelas antigas como Zeugma ou em coleções nas cidades modernas.

É no museu de Gaziantep que está pendurada a "Menina Cigana", obra considerada a "Monalisa" dos mosaicos. Mas outras garotas têm roubado a atenção da obra, dizem os moradores locais: são refugiadas sírias que se prostituem.

"Há dois meses, começaram a aparecer mulheres na garagem", diz o taxista Dicle Karaoglu, que não conta explicitamente o que elas fazem por lá. Mas o guia turístico Can Ildin conta: "São moças que ficaram sem trabalho, muitas sem marido, e estão oferecendo seu corpo. Nunca paguei por isso, por Alá".

Ildin afirma que algumas mulheres cobram 10 liras turcas (pouco mais de R$ 10) por programa.

Pelo sim, pelo não, a dona de casa Ayse Özgül passou a sair no banco do carona com o marido taxista. Ela, como muitos habitantes de Hatay, tem ascendência síria e fala árabe, além do turco local.

"Não acredito que essas pessoas tenham feito nada de mau. São como nós. E não as culpo quando digo que a cidade mudou."

Pudera: mais de 30 mil refugiados foram registrados pelo governo local até dia 15 de junho, quando a reportagem da Folha visitou a província de Hatay. E o número continua crescendo, com o governo acolhendo sírios que atravessem a fronteira.

MORTOS

A revolta contra o ditador sírio, Bashar Assad, já deixou mais de 10 mil mortos, segundo estimativas da ONU. A oposição fala em 17 mil mortos. Enquanto cresce o número de sírios no sul da Turquia, parece diminuir o de visitantes de outras partes do mundo. "Há menos turistas. Bem menos", diz o garçom Yusuf, na cidade de Antakya, a 180 quilômetros de Gaziantep.

O governo local ainda não tem números da variação desde o começo do ano.

"É verão. Os hotéis costumam estar todos cheios nesta época, mas hoje estamos com 20 dos 42 quartos livres", diz um funcionário do hotel Antique. Ele prefere não ser identificado.

TEMPLO

Guias turísticos de Hatay disseram que o fluxo de viajantes à cidade só não caiu mais por conta dos peregrinos que visitam a igreja de São Pedro, um dos primeiros templos católicos do mundo.

"Isso está nos custando pessoalmente", diz um dos guias, Uvanç Onan.

"Mas é um preço que vale pagar. Amanhã haverá mais dinheiro, mas nossos irmãos da Síria podem não estar mais aqui se não os ajudarmos hoje", afirma.

(CHICO FELITTI)

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