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'Temos poucas armas, mas mais vontade'

Com ajuda de desertores do Exército, insurgentes contra o ditador Bashar Assad controlam área no norte da Síria

Recursos precários e o improviso como método caracterizam o reduto, onde se entra por um buraco de arame

MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL A MAREA (SÍRIA)

Civis vestidos com abrigos esportivos e armados de fuzis Kalashnikov fazem a segurança, a bandeira rebelde cobre os muros e crianças brincam alegremente pelas ruas.

Não há sinal das forças da ditadura Assad. Na cidade de Marea, norte da Síria, a zona de segurança ambicionada pelos rebeldes sírios toma forma, inflando a confiança numa vitória próxima, ainda que a menos de 30 km, em Aleppo, o regime dispare artilharia pesada para conter o avanço dos insurgentes.

Da fronteira com a Turquia até Marea -40 km de campos agrícolas pontilhados por pequenos vilarejos-, o controle territorial dos rebeldes justifica a descrição de "território libertado". A atmosfera lembra o leste da Líbia no começo da revolução contra o ditador Muammar Gaddafi, quando os insurgentes conquistaram um grande pedaço do país e estabeleceram uma base política e militar.

Hussein Sejou, 35, agricultor que transformou-se em comandante do ELS (Exército Livre da Síria), controla a região da fronteira turca e o vaivém clandestino em um buraco aberto na cerca de arame farpado.

"Temos poucas armas, mas muito mais vontade que as forças de Assad", diz ele, explicando o avanço dos rebeldes na última semana. "Desertores do Exército treinam nossos combatentes, estamos cada dia mais organizados."

Um ambulatório improvisado sob uma tenda foi montado junto à cerca para atender os feridos que chegam à fronteira. Numa tenda ao lado, membros do ELS recebem os refugiados e os encaminham para a Turquia,

Alguns vestem fardas camufladas, mas a maioria está em trajes civis. A improvisação é a palavra de ordem.

Eles contam que os rebeldes têm algum dinheiro enviado pelo CNS (Conselho Nacional Sírio), a principal aliança opositora. Os fundos, doados pelo Qatar e pela Arábia Saudita, são insuficientes, reclamam. Quem pode ajuda com dinheiro do próprio bolso, comprando comida, água e medicamentos.

A precariedade é evidente. Num pequeno Geely de fabricação chinesa, do tamanho de um fusca, sete combatentes se apertam com seus fuzis a caminho de Aleppo.

O carro foi confiscado de um aliado do regime em Aleppo, dizem, dono de uma concessionária. Em Marea, uma escola foi convertida em base rebelde. Nas paredes, ilustrações de Mickey Mouse agora têm companhia de grafites revolucionário e a onipresente bandeira rebelde.

"Minha vida começou com a revolução", diz Adil Fstk, ex-estudante de computação da universidade de Aleppo que ficou preso dois meses e foi espancado pela "shabiha" (fantasma, em árabe), a temida milícia do regime.

"No dia em que saí da prisão, me alistei no ELS. A revolução não tem volta."

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