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Análise

Julgamento é parte de um drama político maior, que segue um roteiro já definido

KATHRIN HILLE
DO “FINANCIAL TIMES”, EM HEIFEI

A Gangue dos Quatro, liderada pela mulher de Mao Tse-tung, Jiang Qing, passou seis semanas num tribunal quando foi levada a julgamento por sua atuação na Revolução Cultural chinesa. Mas a sorte de Gu Kailai foi decidida em menos de um dia.

Quando a audiência do julgamento de Gu por homicídio foi concluída, representantes do tribunal se deram a muito trabalho para demonstrar que os procedimentos foram justos e profissionais.

A propaganda oficial não conseguiu, contudo, ocultar que o processo integra um drama político muito maior, roteirizado com cuidado, no qual a sorte do marido dela, Bo Xilai, teve papel crucial.

Os políticos mais poderosos do Partido Comunista chinês discutem agora mesmo a formação do próximo comitê de liderança. Para participar dele, Bo travou uma campanha agressiva, forjando alianças com alguns funcionários civis e militares de alto escalão, numa atuação vista como desafio à liderança sênior.

O timing do julgamento suscitou a suspeita de que ele pudesse ser usado para prejudicar a reputação de Bo, justificando seu expurgo e reduzindo o desgaste do PC.

"A cerimônia acabou. Agora eles podem iniciar a reunião deles", escreveu Zhang Jun, da Universidade de Cingapura, após o anúncio sobre o procedimento no tribunal.

O partido acompanha de muito perto a reação da opinião pública ao caso de Gu.

Ontem à tarde o Sina Weibo, similar chinês do Twitter, sofreu uma pane temporária. Embora o problema tenha sido descrito como técnico, os censores muito rapidamente deletaram comentários críticos sobre o julgamento.

O vice-presidente da corte, Tang Yigan, fez questão de descrever o processo legal rigoroso: "O tribunal estudará as evidências com seriedade e de modo completo, avaliará plenamente os argumentos da Promotoria e da defesa e anunciará um veredicto baseado nos fatos e na lei".

Aparentemente respondendo a críticas, Tang disse que a Promotoria apresentou fartas provas e depoimentos sob formas diferentes. Também afirmou que o julgamento foi aberto, visto por 141 pessoas, incluindo profissionais de mídia e pessoas "de todos os setores e profissões".

Mas a imprensa estrangeira foi mantida à distância por barreiras das forças de segurança em volta do tribunal.

Tradução de CLARA ALLAIN

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