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Mordomo teria furtado 100 mil euros do papa

Paolo Gabriele irá a julgamento por desviar documentos de Bento 16, incluindo cheque doado por universidade

Igreja está na defensiva desde que documentos sobre corrupção foram vazados e publicados na mídia italiana

FRANCES D’EMILIO
DA ASSOCIATED PRESS, NO VATICANO

Um juiz do Vaticano determinou ontem que o mordomo do papa e mais um funcionário laico do Vaticano sejam julgados pelo suposto furto de documentos dos aposentos de Bento 16, em um escândalo embaraçoso que expôs disputas de poder e suposta corrupção nos mais altos escalões da Santa Sé.

O indiciamento acusa Paolo Gabriele de furto qualificado, uma acusação que pode valer até seis anos de prisão, ainda que o papa tenha o direito de perdoar o seu antigo homem de confiança.

Gabriele foi acusado de furtar um cheque de € 100 mil (R$ 248 mil) em nome de Bento 16, doado por uma universidade católica espanhola, dos aposentos dele.

Carlo Fusco, advogado de Gabriele, disse à Associated Press que o cheque havia chegado "por acaso" a uma pilha de correspondência do papa que Gabriele havia acumulado em seu apartamento. Fusco declarou que seu cliente "jamais obteve dinheiro ou qualquer outra vantagem econômica", de suas funções como mordomo.

O Vaticano insistiu ao longo da investigação que Gabriele, 45, um funcionário laico e casado que vive com sua família no Vaticano, era a única pessoa sob investigação.

No entanto, o indiciamento de ontem também determinou que Claudio Sciarpelletti, 48, um técnico em computadores na Secretaria de Estado do Vaticano, seja julgado por cumplicidade.

O reverendo Federico Lombardi, porta-voz do Vaticano, disse a jornalistas que um painel de três juízes julgaria os dois réus simultaneamente. A data do julgamento ainda não foi marcada, mas Lombardi disse que não começaria antes do final de setembro. Jornalistas poderão assistir ao julgamento.

CONVICÇÃO RELIGIOSA

A Santa Sé está na defensiva desde que documentos que alegam corrupção e expõem disputas de poder começaram a aparecer na mídia italiana, em janeiro.

Lombardi declarou ontem que os magistrados não tratariam das questões mais amplas e graves reveladas pelos documentos vazados -a suposta corrupção nos mais altos escalões da igreja.

O advogado de Gabriele deve tentar retratá-lo como alguém que errou por ingenuidade, no interesse de denunciar delitos, movido pela convicção religiosa.

Um psicólogo especializado que examinou Gabriele durante o inquérito concluiu que ele não tinha perfil adequado ao seu posto, que envolvia trabalho constante da manhã à noite e incluía servir as refeições do papa, ajudá-lo a se vestir, assistir à missa matinal em companhia do pontífice e outras funções.

O indiciamento diz que os especialistas concluíram que Gabriele sofre de "uma grave inquietação psicológica caracterizada por tensão, ira e frustrações".

Lombardi indicou que "qualquer possível perdão" do papa a Gabriele, que passou semanas isolado em uma cela de alta segurança no Vaticano e agora está sob prisão domiciliar, só poderia surgir após do final do julgamento.

Lombardi deixou também a porta aberta a novos desdobramentos, afirmando que o inquérito estava apenas "parcialmente" concluído.

Também foi encontrada em posse de Gabriele uma rara edição do século 16 da "Eneida", de Virgílio. Ele havia pedido permissão para levar o livro para casa e mostrá-lo ao professor de seu filho.

Tradução de PAULO MIGLIACCI

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