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Morre o ex-presidente do 'New York Times'

Arthur Ochs Sulzberger, que tinha 86 anos, comandou o jornal durante 34 anos, até ser sucedido por um dos filhos

Jornalista é apontado como o principal responsável por revitalizar o jornal que foi comprado pelo avô

LUCIANA COELHO
DE WASHINGTON

Arthur Ochs Sulzberger, o homem que comandou o "New York Times" por 34 anos e é reconhecido como o principal responsável por transformar o jornal no que ele é hoje, morreu ontem em Southampton, litoral de Nova York, aos 86 anos.

Ele estava afastado desde 2001 e tentava se recuperar de uma longa doença, anunciou a família, sem detalhar.

Comprado pelo avô de Sulzberger em 1896, o "Times" é a mais bem-sucedida empresa familiar de jornalismo em ação nos EUA, com uma circulação de 1,5 milhão de exemplares. A notícia da morte foi dada à Redação por Arthur Sulzberger Jr., que em 1992 assumiu o lugar do pai como publisher e, em 1997, como chefe do conselho.

"Punch, como todos o conheciam, liderou a New York Times Company por mais de três décadas brilhantemente. Amado pelos colegas, era um dos executivos mais admirados do setor", escreve o filho.

"Punch, o capitão dos fuzileiros navais que nunca fugia de uma briga, era um defensor feroz da liberdade de imprensa (...) Os Papéis do Pentágono ajudaram a ampliar o acesso à informação crítica e a refrear a censura e a intimidação do governo."

O caso dos Papéis do Pentágono é visto como o grande legado de Sulzberger, de origem judaica.

A publicação de documentos pelo "Times" a partir de 1971 expôs os meandros da política americana na Guerra do Vietnã e culminou na Suprema Corte com uma decisão que resguardaria a liberdade de imprensa, apesar da pressão da Casa Branca.

"Foi seu grande momento, o que o definiu, quando ele pegou o fardo de sua herança e seus próprios instintos e conduziu o jornal seguramente no rumo certo", escreveram Alex S. Jones e Susan Tifft em "The Trust", sobre a história do "Times".

CARREIRA

Sulzberger, um veterano da Segunda Guerra (1939-45) e da Guerra da Coreia (1950-53) que atribuía sua disciplina aos fuzileiros, começou como repórter em 1951, e dedicaria toda a carreira à empresa da família, exceto por um ano como repórter no "Milwaukee Journal", em 1954.

No "Times", foi repórter e correspondente em Paris, Roma e Londres. Formado em história e letras pela Universidade Columbia, tornou-se em 1963, aos 37, seu mais jovem publisher, substituindo o pai, Arthur Hays Sulzberger, que por sua vez sucedera o sogro, Adolph Ochs.

"Você não está comprando um noticiário quando compra o 'New York Times', você está comprando um parecer", afirmou certa vez.

Muito presente na Redação, é lembrado por raramente interferir no trabalho de edição. Seu comando foi marcado também pela revitalização financeira e pelas inovações no jornal.

A companhia diversificou seu portfólio com jornais (entre eles o "Boston Globe"), revistas, estações de rádio e canais locais de TV, embora parte da expansão tenha sido criticada e a maior parte do império já tenha sido vendida.

Entre 1963 e 1997, o "New York Times" recebeu 31 prêmios Pullitzer, o mais prestigiado do jornalismo nos EUA.

Casado três vezes, Sulzberger teve três filhos e adotou uma enteada. O apelido "Punch", dado pelo pai na infância, é inspirado em "Punch e Judy", um casal de personagens infantis britânicos que vive aos tapas.

"Acho que o papel e a tinta prevalecerão para o tipo de jornal que fazemos", afirmou em uma entrevista ao próprio jornal após se aposentar.

"Não falta notícia no mundo. Se você quiser, pode ir à internet e pegar um monte de porcaria. Mas não acho que a maioria das pessoas tenha competência para virar editor. Ou tempo ou interesse."

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