Depoimento

Clima de Dia das Bruxas convive com catástrofe

Sem metrô e ônibus, em uma cidade onde poucos têm carro, e garagens são escassas, restaurantes, lojas e supermercados tiveram que liberar os funcionários e fechar as portas já na noite de domingo.

Ventos muito fortes e chuva intermitente deixaram ruas e calçadas vazias. Várias árvores antigas tombaram, assim como vigas e peças das onipresentes construções e reformas na cidade, aumentando a sensação de insegurança.

O fim de semana foi dedicado a fazer estoques. De comida, de água, de papel higiênico, de livros e filmes para matar o tempo.

Já me arrependi de não ter isolado as janelas com fita adesiva, como fazem os experientes locais por conta do barulho constante do vento.

Vampiros, bruxas, enfermeiras com uniformes justos e curtos faziam fila nos supermercados para comprar mantimentos -sim, no último fim de semana pré-Halloween, os foliões nova-iorquinos misturaram balada com apocalipse, indo comprar estoque com as fantasias das festas.

Na minha fila para comprar iogurte, suco e cereais em uma loja de conveniência no East Village, tinha até uma Monalisa macabra -a moça colocou a cabeça e peruca em uma moldura, mas deixou o sorriso ensanguentado.

Como muitos apartamentos em Nova York têm terraços, muita gente coloca chapas de compensado ou placas de madeira para proteger janelas. Grandes prédios de escritórios formaram barricadas na entrada com sacos de areia.

Como Hollywood acabou banalizando o estoque de catástrofes que abatem Nova York, muitos amigos no Brasil acabam achando "exagero de americano" tantas precauções -ainda que enchentes anuais continuem pegando os brasileiros desprevenidos.

Mas o último furacão a atingir a cidade, o Irene, em agosto do ano passado, muito mais fraco que o Sandy, alagou diversas casas e parques.

Aquelas cenas fantasmagóricas de Times Square vazia, do filme "Vanilla Sky", inspiradas pela obra de Alejandro Amenábar, quase aconteceram ontem sem efeitos especiais. Em uma ilha tão estreita quanto Manhattan, as águas são temidas. (RJL)