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Itamaraty se desdobra para atender a novas demandas das empresas

Diplomacia brasileira muda em razão da maior presença internacional do setor privado do país

Pauta agora inclui até debate sobre o direito aeroportuário; Patriota afirma que a Argentina é 'laboratório' para isso

LUCAS FERRAZ
DE BUENOS AIRES

A crescente internacionalização das empresas brasileiras, sobretudo na América do Sul, alterou o perfil da diplomacia, com a criação de demandas que até pouco tempo atrás não estavam na agenda do Itamaraty.
O tom mais agressivo da política externa diante de interesses cada vez maiores e variados é apenas uma das novas características.
O atual cenário, uma novidade para o Brasil, vem sendo estudado internamente, segundo afirmou à Folha o ministro de Relações Exteriores, Antonio Patriota.
Ao contrário do que ocorreu nos anos 80, quando inúmeras construtoras brasileiras expandiram suas atividades para o Oriente Médio, agora o movimento abrange diversos setores da economia e muitas empresas de pequeno e médio porte que dão os primeiros passos no exterior.
Em países como Argentina, Uruguai, Paraguai e Bolívia, por exemplo, entraram na pauta da diplomacia temas como assistência jurídica, intermediação de negócios, identificação de oportunidades para companhias brasileiras e até debates sobre direito aeroportuário.
Entre os diplomatas, há muitas críticas sobre esse novo modelo, que estaria transformando o Itamaraty numa espécie de "Ministério do Interior". Há uma preocupação em identificar o que é interesse das empresas, do Estado e onde os dois se misturam.
"Necessitamos trabalhar em ações específicas; a internacionalização é um fato novo e se dá de formas distintas. Pequenas e médias empresas, por exemplo, não têm recursos para contratar advogados no exterior. O Itamaraty ainda não tem ideias claras, mas estamos estudando", diz Patriota.

LABORATÓRIO
O laboratório dessa nova experiência, como afirma o chanceler, é a Argentina, cujos interesses brasileiros estão espalhados por diversos setores, como têxtil, agroalimentar, computadores, autopeças, automotivo, energético e construção civil.
De 1998 até hoje, segundo o ex-secretário de Indústria e consultor argentino Dante Sica, o número de empresas brasileiras no país subiu de 63 para 280. No ano passado, 36% do investimento direto estrangeiro na Argentina teve origem brasileira.
"Um exemplo é que nunca tratamos tanto de direito aeroportuário como agora. As companhias aéreas brasileiras querem ampliar os voos à Argentina, enquanto as empresas argentinas querem expandir para o Brasil. Virou assunto da nossa rotina", diz o embaixador em Buenos Aires, Enio Cordeiro.
Diplomatas e especialistas em política externa consultados pela Folha citam dois episódios que inauguraram o novo perfil: o conflito da Odebrecht no Equador, em 2008, e a crise da Petrobras na Bolívia, iniciada em 2006.
Ambos os casos exigiram do Itamaraty uma atuação sem precedentes -hoje o ministério conta com um departamento exclusivo sobre energia, criado após esses episódios.
Atualmente a diplomacia brasileira tenta resolver um impasse na Bolívia, onde o BNDES financia a construção de um estrada pela OAS.

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