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entrevista
"A chance de acordo de paz é quase zero"
CLAUDIA ANTUNES
EDITORA DE MUNDO
Depois de trabalhar 20
anos no Departamento de
Estado dos EUA, como negociador do conflito entre
israelenses e palestinos,
Aaron David Miller acaba
de lançar seu quarto livro,
"The Much too Promised
Land" (a terra muito prometida). Nele, seguindo
uma tradição de especialistas que trocam o governo pela academia, Miller
faz uma autocrítica do viés
pró-Israel de Washington
nas negociações.
Mas ele não vê perspectivas de mudança nisso.
Hoje no Centro Woodrow
Wilson, em Washington,
Miller diz, por telefone,
que o ataque israelense a
Gaza reduziu a "quase zero" as perspectivas de um
acordo com os palestinos.
FOLHA - Vários moderados,
em Israel e nos EUA, vinham
instando Obama a lançar uma
ofensiva diplomática para salvar a ideia dos dois Estados.
Como o ataque israelense vai
afetar as negociações?
MILLER - Vai reduzir uma
perspectiva já muito pequena para perto de zero.
Eu nunca acreditei, mesmo antes dessa operação,
que seria possível ter um
acordo entre israelenses e
palestinos agora. Mas a
ação israelense tornará as
coisas mais difíceis.
E, mesmo que isso não
acontecesse, as três principais razões pelas quais
um acordo final entre Israel e os palestinos não é
possível agora vão ser
agravadas pelo ataque.
A primeira é um movimento nacional palestino
dividido. Mesmo se o Hamas ficar enfraquecido, isso significará que [o presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud] Abbas agora será
capaz de impor uma posição negociadora? Duvido.
A segunda são os temas
da negociação em si, Jerusalém, fronteiras, segurança. Há diferenças enormes entre os dois lados em
cada uma dessas questões.
A terceira é a própria indecisão de Israel. O país vota
em de fevereiro e não há
consenso sobre o preço a
pagar por um acordo.
E aí você tem o comportamento de Israel não relacionado a necessidades
de segurança, como a intensificação da colonização [da Cisjordânia], o
confisco de terras, a demolição de casas [de palestinos]. Tudo isso continua.
FOLHA - Obama pressionaria
Israel a parar com isso?
MILLER - Não, a menos que
ele tenha a oportunidade
de conseguir alguma coisa.
Se ele sentir a perspectiva
de um rompimento do impasse, então, como aconteceu nas poucas vezes em
que um governo americano foi duro com Israel, ele
vai atuar. Mas ele não irá
contra Israel por princípio, e vai dar a Israel, no
que concerne à segurança,
um tremendo raio de ação.
FOLHA - A própria ideia dos
dois Estados ameaça morrer..
MILLER - É verdade. Mas
nada pode superar os problemas que enfrentamos.
Não é possível pacificar o
movimento nacional palestino nem convencer os
israelenses do preço que
terão de pagar. Nem os
EUA estão dispostos a ser
duros e justos.
FOLHA - Há a possibilidade de
os EUA aceitarem um governo
palestino que inclua o Hamas?
MILLER - Teoricamente
sim, mas não acredito que
um governo Obama fará
isso. Os palestinos é que
têm de tomar a decisão-chave de adotar uma posição negociadora unificada,
dentro do seu movimento
nacional. Ninguém fará isso por eles.
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