|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Empresários ajudam brasileiros no Suriname
Comerciantes afirmam ter fornecido tradutores, comida e roupas para garimpeiros vítimas de ataques
JOÃO CARLOS MAGALHÃES
ENVIADO ESPECIAL AO SURINAME
O ataque de descendentes de
quilombolas surinameses a
brasileiros na véspera do Natal
levou empresários locais a se
unir em uma rede de solidariedade para ajudar a levar conforto aos cerca de cem garimpeiros que chegaram à capital Paramaribo feridos, aterrorizados
e sem dinheiro nenhum.
Logo após o conflito, conforme contou um diplomata, a
Embaixada do Brasil no país
não tinha os recursos necessários para hospedar, alimentar e
vestir quem chegava de Albina,
na fronteira com a Guiana
Francesa, onde ocorreu o violento incidente.
Foi então que pessoas como
Soenil Kalloe, Fernando Antônio Fernandes e Américo (ele
prefere não dar seu sobrenome) resolveram gastar tempo,
dinheiro e energia para ajudar
com comida, roupas e o que
mais fosse necessário.
Até tradutores eles arranjaram, para facilitar a comunicação das vítimas com autoridades locais, que falam holandês.
"Como eu não iria dar esse
apoio aos brasileiros? Tudo o
que tenho eu devo a eles. Se eu
não ajudasse eles, ajudaria
quem?", disse, em bom português, o surinamês de ascendência indiana Kalloe.
Ele é um dos sócios de um
grande supermercado frequentado basicamente por brasileiros no bairro chamado de Belémzinho, em referência à capital do Estado do Pará.
Kalloe, que há três anos casou-se com uma paraense e que
há dois teve com ela uma filha,
adora os emigrantes do Brasil,
que aprendeu a admirar quando trabalhava num garimpo, há
uma década. "Vocês sabem
aproveitar a vida, são alegres."
Fernandes, 28, um paranaense de Cascavel que mora
há dois anos no Suriname, doou
pães da sua padaria e também
comprou roupas.
"A gente faz isso por humanidade", disse. "Hoje é a gente
ajudando. No futuro, se a gente
precisar de algo, sabemos que
vamos ter apoio."
Toda a ação foi feita discretamente. Não se viam carros com
as marcas de suas empresas ou
qualquer tipo de promoção.
O exemplo máximo dessa
discrição é Américo, que carregou vítimas em seu próprio carro para hospitais e para o aeroporto e trouxe mantimentos
para os garimpeiros. "Eu faço
isso porque [exercer] a compaixão me deixa feliz, não importa
se é brasileiro, indiano, chinês.
Não importa quem eu sou."
Ele foi um dos principais organizadores da chegada dos
brasileiros. Além de escolher líderes entre os garimpeiros refugiados, que ajudassem a listar
as necessidades dos colegas,
procurou outros empresários
que pudessem contribuir.
A Embaixada do Brasil se
prontificou a ressarcir o que
Américo gastou, mas ele afirmou que isso não é importante.
"Para mim, tanto faz."
Texto Anterior: Risco de ataque biológico entra na agenda Próximo Texto: Reformada, UE busca maior papel global Índice
|