São Paulo, sexta-feira, 01 de janeiro de 2010

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Empresários ajudam brasileiros no Suriname

Comerciantes afirmam ter fornecido tradutores, comida e roupas para garimpeiros vítimas de ataques

JOÃO CARLOS MAGALHÃES
ENVIADO ESPECIAL AO SURINAME

O ataque de descendentes de quilombolas surinameses a brasileiros na véspera do Natal levou empresários locais a se unir em uma rede de solidariedade para ajudar a levar conforto aos cerca de cem garimpeiros que chegaram à capital Paramaribo feridos, aterrorizados e sem dinheiro nenhum.
Logo após o conflito, conforme contou um diplomata, a Embaixada do Brasil no país não tinha os recursos necessários para hospedar, alimentar e vestir quem chegava de Albina, na fronteira com a Guiana Francesa, onde ocorreu o violento incidente.
Foi então que pessoas como Soenil Kalloe, Fernando Antônio Fernandes e Américo (ele prefere não dar seu sobrenome) resolveram gastar tempo, dinheiro e energia para ajudar com comida, roupas e o que mais fosse necessário.
Até tradutores eles arranjaram, para facilitar a comunicação das vítimas com autoridades locais, que falam holandês.
"Como eu não iria dar esse apoio aos brasileiros? Tudo o que tenho eu devo a eles. Se eu não ajudasse eles, ajudaria quem?", disse, em bom português, o surinamês de ascendência indiana Kalloe.
Ele é um dos sócios de um grande supermercado frequentado basicamente por brasileiros no bairro chamado de Belémzinho, em referência à capital do Estado do Pará.
Kalloe, que há três anos casou-se com uma paraense e que há dois teve com ela uma filha, adora os emigrantes do Brasil, que aprendeu a admirar quando trabalhava num garimpo, há uma década. "Vocês sabem aproveitar a vida, são alegres."
Fernandes, 28, um paranaense de Cascavel que mora há dois anos no Suriname, doou pães da sua padaria e também comprou roupas.
"A gente faz isso por humanidade", disse. "Hoje é a gente ajudando. No futuro, se a gente precisar de algo, sabemos que vamos ter apoio."
Toda a ação foi feita discretamente. Não se viam carros com as marcas de suas empresas ou qualquer tipo de promoção.
O exemplo máximo dessa discrição é Américo, que carregou vítimas em seu próprio carro para hospitais e para o aeroporto e trouxe mantimentos para os garimpeiros. "Eu faço isso porque [exercer] a compaixão me deixa feliz, não importa se é brasileiro, indiano, chinês. Não importa quem eu sou."
Ele foi um dos principais organizadores da chegada dos brasileiros. Além de escolher líderes entre os garimpeiros refugiados, que ajudassem a listar as necessidades dos colegas, procurou outros empresários que pudessem contribuir.
A Embaixada do Brasil se prontificou a ressarcir o que Américo gastou, mas ele afirmou que isso não é importante. "Para mim, tanto faz."


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