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Senado italiano mantém Prodi à frente do governo
Premiê ganha confiança da Casa que provocou sua renúncia há uma semana
Acordo em torno de 12 pontos inegociáveis na política do governo deu resultado e manteve centro-esquerda unida na votação
France Presse/Andreas Solaro
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Romano Prodi no Senado, antes da votação cujo resultado reconduziu-o ao cargo de premiê |
DA REDAÇÃO
O premiê italiano, Romano
Prodi, saiu vitorioso ontem do
Senado, ao ter a confiança em
sua liderança renovada por votação na Casa. O placar foi de
162 votos a 157 -mais duas abstenções. O desfecho da sessão
de ontem encerra uma crise
iniciada na semana passada e
que teve seu ápice na renúncia
de Prodi à chefia do governo.
O episódio que deu início à
crise foi uma outra votação no
Senado, no último dia 21, da
qual o governo saiu derrotado.
Na ocasião, a base que dava sustentação a Prodi rachou, e ele
não conseguiu apoio para aprovar sua proposta de política externa. O pivô do racha foram
dois pontos específicos: a manutenção dos cerca de 1.900
militares italianos na missão da
Otan no Afeganistão; e a permissão para a expansão de uma
base militar dos EUA na cidade
de Vicenza, norte da Itália.
Como esses pontos não foram excluídos das diretrizes da
política externa, o governo perdeu dois votos na Casa, de senadores da extrema esquerda.
Cumprindo o prometido, Prodi
renunciou após o resultado.
12 pontos
Seguiu-se à renúncia uma
reunião dos líderes dos partidos da União, a coalizão que
sustenta o governo. Nesse encontro, do qual o premiê então
demissionário também participou, decidiu-se estabelecer um
pacote de 12 pontos na política
do governo -não só externa-
que não devem ser alterados.
O objetivo do acordo é evitar
que parlamentares governistas
votem contra uma ou outra das
12 diretrizes e com isso garantir
que a frágil aliança que sustenta Prodi não rache novamente.
É também, pelo lado dos assuntos que podem ser debatidos
-ou seja, dos pontos que não
estão entre os 12-, uma tentativa de obter apoio de parlamentares de fora da base. Isso
porque votos extras podem
sempre ser obtidos mediante a
negociação de determinados
temas -o que é de muita valia
para um governo que tem
maioria pequena e instável, como é o caso no Senado.
Entre os temas que constam
da lista dos 12 estão a política
externa, na qual é reafirmado o
"atual empenho na missão no
Afeganistão" e o "apoio constante às iniciativas (...) da
ONU". Estão também na relação a defesa da reforma previdenciária e uma reafirmação do
papel da liderança do premiê.
De fora, a polêmica Lei dos
Casais de Fato, que prevê direitos a casais que vivem juntos
mas não são oficialmente casados, entre eles os homossexuais. Ausente também, sintomaticamente, a proposta de
uma reforma da Lei Eleitoral
-proposta essa que visa dificultar o acesso de partidos nanicos ao Parlamento, o que, em
princípio, tornaria mais sólidas
as maiorias parlamentares em
futuras legislaturas.
Prova de que a idéia do acordo em torno dos 12 pontos deu
certo, ao menos por ora, é o fato
de que os 158 senadores eleitos
da União votaram pela confiança em Prodi ontem. Os quatro
votos a mais do resultado final
vieram de senadores vitalícios.
Apoio e governabilidade
Após a votação cujo resultado o reconduziu ao posto de
premiê, Prodi afirmou estar
"muito satisfeito". "Agora, vamos à Câmara", completou.
Outro voto de confiança
ocorrerá amanhã, na Câmara.
Mas esse não preocupa o governo, dado que tem maioria confortável nessa Casa.
A vitória de ontem para o governo não é indicativa, porém,
de que sua tarefa será fácil daqui por diante. Não só porque o
Senado permanece uma arena
dividida, mas porque os eleitores não estão satisfeitos com a
política italiana. Segundo pesquisa divulgada ontem pelo jornal "Corriere della Sera", só
40% dos entrevistados queriam a permanência da União
no poder; e 61% não acreditam
que Prodi conseguirá terminar
o mandato -o qual iniciou-se
há apenas nove meses.
Para o ex-premiê Silvio Berlusconi, da oposição, a vitória
de Prodi teve um dissabor a
mais: o senador vitalício Marco
Follini, que foi seu vice, votou a
favor do governo. "Com o voto
de Follini, Prodi assumiu a responsabilidade por desfigurar a
coalizão e a maioria que nasceu
das urnas", comentou Berlusconi, segundo o "Corriere".
Com agências internacionais
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