São Paulo, quinta-feira, 01 de março de 2007

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Senado italiano mantém Prodi à frente do governo

Premiê ganha confiança da Casa que provocou sua renúncia há uma semana

Acordo em torno de 12 pontos inegociáveis na política do governo deu resultado e manteve centro-esquerda unida na votação

France Presse/Andreas Solaro
Romano Prodi no Senado, antes da votação cujo resultado reconduziu-o ao cargo de premiê


DA REDAÇÃO

O premiê italiano, Romano Prodi, saiu vitorioso ontem do Senado, ao ter a confiança em sua liderança renovada por votação na Casa. O placar foi de 162 votos a 157 -mais duas abstenções. O desfecho da sessão de ontem encerra uma crise iniciada na semana passada e que teve seu ápice na renúncia de Prodi à chefia do governo.
O episódio que deu início à crise foi uma outra votação no Senado, no último dia 21, da qual o governo saiu derrotado. Na ocasião, a base que dava sustentação a Prodi rachou, e ele não conseguiu apoio para aprovar sua proposta de política externa. O pivô do racha foram dois pontos específicos: a manutenção dos cerca de 1.900 militares italianos na missão da Otan no Afeganistão; e a permissão para a expansão de uma base militar dos EUA na cidade de Vicenza, norte da Itália.
Como esses pontos não foram excluídos das diretrizes da política externa, o governo perdeu dois votos na Casa, de senadores da extrema esquerda. Cumprindo o prometido, Prodi renunciou após o resultado.

12 pontos
Seguiu-se à renúncia uma reunião dos líderes dos partidos da União, a coalizão que sustenta o governo. Nesse encontro, do qual o premiê então demissionário também participou, decidiu-se estabelecer um pacote de 12 pontos na política do governo -não só externa- que não devem ser alterados.
O objetivo do acordo é evitar que parlamentares governistas votem contra uma ou outra das 12 diretrizes e com isso garantir que a frágil aliança que sustenta Prodi não rache novamente. É também, pelo lado dos assuntos que podem ser debatidos -ou seja, dos pontos que não estão entre os 12-, uma tentativa de obter apoio de parlamentares de fora da base. Isso porque votos extras podem sempre ser obtidos mediante a negociação de determinados temas -o que é de muita valia para um governo que tem maioria pequena e instável, como é o caso no Senado.
Entre os temas que constam da lista dos 12 estão a política externa, na qual é reafirmado o "atual empenho na missão no Afeganistão" e o "apoio constante às iniciativas (...) da ONU". Estão também na relação a defesa da reforma previdenciária e uma reafirmação do papel da liderança do premiê.
De fora, a polêmica Lei dos Casais de Fato, que prevê direitos a casais que vivem juntos mas não são oficialmente casados, entre eles os homossexuais. Ausente também, sintomaticamente, a proposta de uma reforma da Lei Eleitoral -proposta essa que visa dificultar o acesso de partidos nanicos ao Parlamento, o que, em princípio, tornaria mais sólidas as maiorias parlamentares em futuras legislaturas.
Prova de que a idéia do acordo em torno dos 12 pontos deu certo, ao menos por ora, é o fato de que os 158 senadores eleitos da União votaram pela confiança em Prodi ontem. Os quatro votos a mais do resultado final vieram de senadores vitalícios.

Apoio e governabilidade
Após a votação cujo resultado o reconduziu ao posto de premiê, Prodi afirmou estar "muito satisfeito". "Agora, vamos à Câmara", completou.
Outro voto de confiança ocorrerá amanhã, na Câmara. Mas esse não preocupa o governo, dado que tem maioria confortável nessa Casa.
A vitória de ontem para o governo não é indicativa, porém, de que sua tarefa será fácil daqui por diante. Não só porque o Senado permanece uma arena dividida, mas porque os eleitores não estão satisfeitos com a política italiana. Segundo pesquisa divulgada ontem pelo jornal "Corriere della Sera", só 40% dos entrevistados queriam a permanência da União no poder; e 61% não acreditam que Prodi conseguirá terminar o mandato -o qual iniciou-se há apenas nove meses.
Para o ex-premiê Silvio Berlusconi, da oposição, a vitória de Prodi teve um dissabor a mais: o senador vitalício Marco Follini, que foi seu vice, votou a favor do governo. "Com o voto de Follini, Prodi assumiu a responsabilidade por desfigurar a coalizão e a maioria que nasceu das urnas", comentou Berlusconi, segundo o "Corriere".


Com agências internacionais


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