|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
DIREITOS
Projeto praticamente inviabiliza protestos; outra medida permite prender suspeitos de terror por 30 dias sem acusação
Rússia aprova lei que limita atos públicos
DA REDAÇÃO
O Parlamento russo aprovou,
em primeira sessão, um projeto
de lei que cria uma série de restrições a manifestações em público,
provocando críticas da já enfraquecida oposição e de entidades
da sociedade civil.
O projeto proíbe reuniões diante de prédios públicos, embaixadas, escritórios de organizações
internacionais, escolas, hospitais,
estádios, teatros e templos religiosos. Também impede a realização
de manifestações perto de ruas
importantes, fábricas e oleodutos.
O governo do presidente Vladimir Putin, que tem ampla maioria
na Duma (Câmara Baixa) desde a
eleição parlamentar de dezembro
passado, justificou a medida sob o
argumento de que eventos públicos perto desses locais representam uma ameaça à segurança.
O partido Rússia Unida, apoiado por Putin (que disputou a reeleição como "independente"), obteve mais de dois terços das vagas
da Duma em dezembro. A oposição tem apenas uma presença
simbólica no Parlamento.
Para os partidos de oposição
-em especial os comunistas e os
liberais- e ONGs, a nova lei, se
aprovada, silenciará uma sociedade civil que, pouco mais de uma
década após o final da União Soviética (1991), começa a se fortalecer. "A lei elimina o direito dos cidadãos de realizar reuniões pacíficas, demonstrações e piquetes
permitidos pela Constituição",
disse o partido Yabloko (liberal),
que perdeu todas as suas vagas no
Parlamento na última eleição.
Simpatizantes do partido realizaram manifestações contra o
projeto do lado de fora do Parlamento. "Não ao Estado policial",
"respeitem a Constituição", gritavam. Vários deles foram presos e
soltos algumas horas depois.
"Essa lei efetivamente proíbe
eventos públicos que não sejam
do agrado das autoridades", afirmou o grupo ambientalista mundial Greenpeace.
O projeto de lei ainda precisa ser
votado mais duas vezes pela Duma. Se aprovado, será enviado ao
Senado, também dominado por
Putin, e finalmente será submetido a sanção presidencial.
A reeleição de Putin com mais
de 70% dos votos em 14 de fevereiro provocou dúvidas no Ocidente em relação ao futuro da democracia na Rússia. No primeiro
mandato, Putin silenciou praticamente toda a mídia independente
e perseguiu adversários políticos.
A história russa é marcada por
governantes ou regimes autoritários desde os tempos dos czares e,
posteriormente, durante a era comunista (iniciada em 1917 e terminada em 1991).
Desde o colapso da ex-URSS,
manifestações são bem mais freqüentes no país, mas costumam
ser pequenas e são praticamente
ignoradas pela mídia e as autoridades. Críticos dizem que, se a lei
for aprovada, nem mesmo reuniões desse porte acontecerão.
De acordo com o Greenpeace
-organização que atua na área
ambiental-, "não fará sentido
realizar protestos nos locais autorizados pelo governo porque não
haverá público nesses locais".
Prisão sem acusação
A Duma também aprovou ontem, em terceira e última sessão,
uma nova lei que permite prender
suspeitos de terrorismo e de alguns crimes por um período de 30
dias sem que eles sejam formalmente acusados.
A lei atual limita esse período a
dez dias. A extensão do prazo seria uma vitória dos serviços de segurança russos.
Poderão ficar presos sem acusação formal por 30 dias suspeitos
de seqüestro, criação de unidades
armadas ilegais, tentativa de assassinato de funcionários do governo, tentativa de golpe e rebelião armada, sabotagem e ataques
contra indivíduos ou agências estrangeiros.
Críticos dizem que ela ampliará
a prática de prisões arbitrárias e
outras violações cometidas pela
polícia e os serviços de segurança.
Com agências internacionais
Texto Anterior: Análise: Atrocidade testa apoio público nos EUA e insufla insurgentes Próximo Texto: França: Após derrota, Chirac muda gabinete Índice
|