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ÁSIA
Presidente teme que país se torne abrigo para terroristas e traficantes; doadores prometem US$ 4,4 bi até março de 2005
Karzai pede US$ 27,5 bi para evitar colapso do Afeganistão
MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO
O presidente afegão, Hamid
Karzai, pediu ontem à comunidade internacional US$ 27,5 bilhões
em ajuda financeira à sua reconstrução -em sete anos- e colaboração logística e militar para
pôr fim ao cultivo e venda ilegal
de ópio e haxixe, dizendo temer
que o país se torne um abrigo para
terroristas e traficantes.
"O que já fizemos é promissor,
mas vou ser franco: a reconstrução apenas começou", afirmou
Karzai ante 50 doadores potenciais, em Berlim. Eles concordaram em doar US$ 4,4 bilhões até
março de 2005, segundo o ministro das Finanças afegão, Ashraf
Ghani. Nos próximos três anos, o
país receberá US$ 8,2 bilhões.
Mais de dois anos depois que
uma coalizão liderada pelos EUA
depôs o regime do Taleban, que
dava abrigo a Osama bin Laden e
a seus asseclas da rede Al Qaeda, o
Afeganistão, um dos países mais
pobres e o maior produtor de
ópio do planeta, continua sendo
uma das principais preocupações
do Ocidente no que se refere à segurança. Estima-se que a produção de ópio, que fora quase erradicada sob o Taleban, seja responsável por 50% do PIB afegão, que
gira em torno de US$ 4 bilhões.
Mas a Guerra do Iraque fez que
a atenção internacional fosse desviada. O Afeganistão ainda precisa de muita ajuda para atingir níveis razoáveis de desenvolvimento, para Morgan Courtney, co-autora de um relatório do Projeto
para Reconstrução Pós-Conflito,
do Centro para Estudos Estratégicos e Internacionais (EUA).
"O pedido de Karzai é baseado
em estudos sérios feitos no país.
Ele é razoável. Como disse Ghani
nesta semana, os afegãos querem
uma bicicleta, não uma Ferrari. O
problema é que há poucas chances de o Afeganistão receber esse
dinheiro. Na reunião de Tóquio,
em 2002, Cabul pediu US$ 10 bilhões, mas só recebeu US$ 4,5 bilhões", disse Courtney, cujo estudo foi divulgado ontem, à Folha.
O secretário de Estado dos EUA,
Colin Powell, prometeu que Washington "não abandonará o Afeganistão". "Nunca mais na história terroristas e tiranos dominarão o país", declarou Powell.
Karzai sabia que não podia esperar que, na conferência de Berlim, os doadores se comprometessem a doar os US$ 27,5 bilhões,
mas deixou claro que o montante
é necessário para conter o tráfico
de drogas e as atividades dos chefes de guerra. Estes, que ajudaram
a coalizão a depor o Taleban,
transformaram-se em líderes regionais fortes e, muitas vezes, não
respeitam o governo central.
"Os chefes de guerra são um
grande problema, pois minam o
governo central ao não repassarem os impostos que cobram da
população local. Os EUA e a comunidade internacional terão de
achar um modo de lidar com eles,
porém ainda não sabem o que fazer. Contudo seria ainda mais eficaz mostrar à população que o governo existe, e isso só ocorrerá
quando Cabul puder fornecer serviços básicos às regiões. As pessoas passarão a respeitar o governo se virem que ele tem uma razão de ser", analisou Courtney.
Uma força de 13,5 mil homens
liderada pelos EUA atua no interior do Afeganistão, tentando caçar membros ainda ativos da Al
Qaeda e do Taleban. Outros 2.000
marines chegaram à região ontem. Ademais, um contingente de
5.000 homens comandado pela
Otan zela pela segurança de Cabul. Recentemente, a aliança militar ocidental recebeu a incumbência de criar equipes de proteção para agir no interior do país.
Para Courtney, todavia, isso não
será de grande valia. "Só há 6.000
soldados afegãos bem treinados e
2.000 policiais para realizar a tarefa num país de mais 28 milhões de
pessoas que tem um enorme problema de tráfico de drogas e chefes de guerra muito influentes."
Saúde e educação
Segundo seu estudo, investimentos em saúde, em educação e
em infra-estrutura são vitais
atualmente. "O caso mais grave é
o da saúde. A mortalidade infantil
é uma das mais altas do mundo. A
educação é outro desafio, já que o
analfabetismo entre as mulheres é
de 90%, o que é terrível."
"Também é preciso melhorar a
infra-estrutura, construindo estradas. Não só estradas principais
mas também vias que levem os
produtos do campo aos mercados
consumidores. Só assim haverá a
criação de um mercado interno
no Afeganistão, o que é uma premissa para que o país possa sustentar-se", apontou Courtney.
Ontem Karzai afirmou que, se
tudo correr bem, o Afeganistão
será economicamente auto-suficiente em 2014. De acordo com
Ghani, as doações feitas agora evitarão que a comunidade internacional tenha de despender muito
mais no futuro -se houver um
colapso institucional no país.
Vale lembrar que muitos dos
atuais líderes políticos afegãos fizeram parte do regime que não
conseguiu conter uma guerra civil
na década passada. O conflito
abriu caminho para que o Taleban chegasse ao poder, em 1996.
E, no domingo, Karzai teve de
adiar as eleições presidenciais de
junho para setembro -um mau
sinal, para Courtney.
Com agências internacionais
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