São Paulo, terça-feira, 01 de junho de 2010

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Brasil chama embaixador para cobrar explicações

"Não poderíamos ter ficado mais chocados", diz chanceler Amorim

Itamaraty defende ação na ONU por se tratar de "ato muito grave'; EUA dizem "lamentar", mas não condenam o aliado


FÁBIO AMATO
SOFIA FERNANDES
DE BRASÍLIA

O governo brasileiro informou ontem que recebeu com "choque e consternação" a notícia sobre o ataque de Israel a um dos barcos que levavam ajuda humanitária à faixa de Gaza. O embaixador israelense no Brasil foi chamado para dar explicações.
"Não poderíamos ter ficado mais chocados. Eram pessoas pacíficas, que não significavam nenhuma ameaça e que estavam procurando realizar uma ação humanitária", disse ontem o chanceler Celso Amorim, para quem o ataque foi "muito grave".
O embaixador israelense Giora Becher esteve ontem mesmo no Itamaraty.
Em nota, a Embaixada de Israel disse que ele reforçou a posição israelense de que não se tratava de missão de paz, mas de uma provocação do "grupo ilegal e terrorista do Hamas em Gaza".
Becher afirmou que os soldados israelenses foram atacados e disse ao governo brasileiro que não existe crise humanitária em Gaza.
O Itamaraty disse, via nota, que "não há justificativa para intervenção militar em comboio pacífico, de caráter estritamente humanitário".
O Brasil disse considerar que o fato de ter ocorrido em águas internacionais torna ainda mais grave a ofensiva.

AÇÃO NA ONU
Amorim disse, inclusive, que a atitude de Israel justifica ação por parte daONU.
"É um ato muito grave, estamos preocupados com isso, esperamos que a ONU adote alguma ação e que Israel possa atender ao que for solicitado", disse o chanceler, que apoiou convocação extraordinária do Conselho de Segurança e afirmou esperar uma declaração "forte".
Os EUA, maior aliado israelense, disseram "lamentar profundamente a perda de vidas e os feridos" e que esperam uma investigação sobre os acontecimentos.
"Neste momento trabalhamos para entender as circunstâncias que cercam a tragédia", disse o país.
Embora tenha demonstrado "grande preocupação" com o sofrimento do 1,5 milhão de palestinos em Gaza, Washington criticou o grupo Hamas, ao qual atribuiu responsabilidade por "complicar esforços humanitários".
O premiê israelense, Binyamin Netanyahu, teve de cancelar encontro que teria hoje com o presidente americano, Barack Obama, para regressar a seu país.
Apesar do mau momento nas relações entre os históricos aliados, qualquer ação no Conselho de Segurança deverá ser vetada pelos EUA.

OUTRAS REAÇÕES
A ação israelense foi alvo ainda de duras condenações por parte de líderes mundiais e organismos internacionais.
Uma das mais duras foi a do premiê Recep Tayyp Erdogan, da Turquia, país de origem de uma das organizações que lideravam a frota.
"Esta ação, totalmente contrária aos princípios da lei internacional, é desumano terrorismo de Estado. Ninguém deve achar que ficaremos calados diante disso."
Ele estava em viagem ao Chile -após passar pelo Brasil- e retornou à Turquia.
A Turquia, cujas relações com Israel deterioraram-se dramaticamente desde a ofensiva contra a faixa de Gaza, em janeiro de 2009 -e, agora, pelo acordo com o Irã,do qual o Brasil participou-, chamou de volta seu embaixador em Tel Aviv.
Crítico de Israel, o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, disse que "as ações desumanas do regime sionista contra palestinos e a proibição à ajuda humanitária a Gaza não mostram força do regime, mas a fraqueza."
O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, disse ser "vital investigação para determinar como esse derramamento de sangue teve lugar".

Com agências internacionais



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