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Brasil chama embaixador para cobrar explicações
"Não poderíamos ter ficado mais chocados", diz chanceler Amorim
Itamaraty defende ação na ONU por se tratar de "ato muito grave'; EUA dizem "lamentar", mas não condenam o aliado
FÁBIO AMATO
SOFIA FERNANDES
DE BRASÍLIA
O governo brasileiro informou ontem que recebeu com
"choque e consternação" a
notícia sobre o ataque de Israel a um dos barcos que levavam ajuda humanitária à
faixa de Gaza. O embaixador
israelense no Brasil foi chamado para dar explicações.
"Não poderíamos ter ficado mais chocados. Eram pessoas pacíficas, que não significavam nenhuma ameaça e
que estavam procurando realizar uma ação humanitária", disse ontem o chanceler
Celso Amorim, para quem o
ataque foi "muito grave".
O embaixador israelense
Giora Becher esteve ontem
mesmo no Itamaraty.
Em nota, a Embaixada de
Israel disse que ele reforçou a
posição israelense de que
não se tratava de missão de
paz, mas de uma provocação
do "grupo ilegal e terrorista
do Hamas em Gaza".
Becher afirmou que os soldados israelenses foram atacados e disse ao governo brasileiro que não existe crise
humanitária em Gaza.
O Itamaraty disse, via nota, que "não há justificativa
para intervenção militar em
comboio pacífico, de caráter
estritamente humanitário".
O Brasil disse considerar
que o fato de ter ocorrido em
águas internacionais torna
ainda mais grave a ofensiva.
AÇÃO NA ONU
Amorim disse, inclusive,
que a atitude de Israel justifica ação por parte daONU.
"É um ato muito grave, estamos preocupados com isso, esperamos que a ONU
adote alguma ação e que Israel possa atender ao que for
solicitado", disse o chanceler, que apoiou convocação
extraordinária do Conselho
de Segurança e afirmou esperar uma declaração "forte".
Os EUA, maior aliado israelense, disseram "lamentar profundamente a perda
de vidas e os feridos" e que
esperam uma investigação
sobre os acontecimentos.
"Neste momento trabalhamos para entender as circunstâncias que cercam a
tragédia", disse o país.
Embora tenha demonstrado "grande preocupação"
com o sofrimento do 1,5 milhão de palestinos em Gaza,
Washington criticou o grupo
Hamas, ao qual atribuiu responsabilidade por "complicar esforços humanitários".
O premiê israelense, Binyamin Netanyahu, teve de
cancelar encontro que teria
hoje com o presidente americano, Barack Obama, para
regressar a seu país.
Apesar do mau momento
nas relações entre os históricos aliados, qualquer ação
no Conselho de Segurança
deverá ser vetada pelos EUA.
OUTRAS REAÇÕES
A ação israelense foi alvo
ainda de duras condenações
por parte de líderes mundiais
e organismos internacionais.
Uma das mais duras foi a
do premiê Recep Tayyp Erdogan, da Turquia, país de origem de uma das organizações que lideravam a frota.
"Esta ação, totalmente
contrária aos princípios da
lei internacional, é desumano terrorismo de Estado. Ninguém deve achar que ficaremos calados diante disso."
Ele estava em viagem ao
Chile -após passar pelo Brasil- e retornou à Turquia.
A Turquia, cujas relações
com Israel deterioraram-se
dramaticamente desde a
ofensiva contra a faixa de Gaza, em janeiro de 2009 -e,
agora, pelo acordo com o
Irã,do qual o Brasil participou-, chamou de volta seu
embaixador em Tel Aviv.
Crítico de Israel, o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, disse que "as
ações desumanas do regime
sionista contra palestinos e a
proibição à ajuda humanitária a Gaza não mostram força
do regime, mas a fraqueza."
O secretário-geral da ONU,
Ban Ki-moon, disse ser "vital
investigação para determinar como esse derramamento de sangue teve lugar".
Com agências internacionais
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