São Paulo, domingo, 01 de agosto de 2004

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ELEIÇÃO NOS EUA

James Carville, que também trabalhou para Maluf e FHC, acha que o "desastre" da guerra derrubará Bush

"Kerry ganhará", diz marqueteiro de Clinton

FERNANDO CANZIAN
ENVIADO ESPECIAL A BOSTON

Há 12 anos, o marqueteiro americano James Carville cunhou a famosa expressão que seria usada contra George Bush pai na vitoriosa campanha de Bill Clinton: "It's the economy, stupid" (é a economia, estúpido).
A senha levou Clinton a repetir sem parar que Bush pai tinha levado os EUA à pior crise desde a Grande Depressão, nos anos 20.
Outro democrata, o candidato John Kerry, agora repete sem parar que outro Bush, George W., levou os EUA "ao desastre" com a Guerra do Iraque.
"Tenho certeza de que Kerry ganha esta eleição", diz Carville. Por que? "Porque Bush levou este país a uma guerra sem razão e a executou de forma muito pobre."
A eleição deste ano será a primeira desde 1972 (quando os EUA lutavam no Vietnã) em que os americanos irão às urnas tendo no topo de suas preocupações questões relacionadas à segurança, e não à economia.
De fala rápida e voz rouca, Carville é um dos âncoras do popular programa "Crossfire", da CNN. No Brasil, já teve como clientes Paulo Maluf, Celso Pitta e Fernando Henrique Cardoso.
Leia sua entrevista à Folha:

 

Folha - O sr. não acha que Kerry poderia estar mais bem posicionado nas pesquisas diante das más notícias recentes para Bush?
James Carville -
Não. Acho que Kerry está em boa forma. Ele entrou cedo e de cabeça nessa campanha e o seu partido fez uma convenção que parece ter sido um sucesso. Não vejo como ele poderia estar melhor a esta altura.

Folha - Kerry sai de sua convenção com muito mais vantagem do que quando entrou?
Carville -
Creio que sim. Isso vai depender de muita coisa. Mas o que devemos olhar agora, mais do que para a campanha de Kerry, é o estado do presidente Bush.
Lembre-se de que Bush é um presidente no cargo, com a máquina do governo por trás dele. E um presidente no cargo que tem menos de 50% [das intenções de voto] é um presidente com problemas. Ele está em uma posição nada favorável.

Folha - Mas o que pode acontecer a favor de Kerry daqui em diante?
Carville -
Não se começa uma guerra todo dia, especialmente uma guerra cujos motivos começam a desmoronar em nossa frente. E também não descobrimos freqüentemente que o resultado dessa guerra não é nem um pouco parecido com o que se planejava ou se imaginava. Creio que as pessoas não estejam gostando nem um pouco disso.
Tenho certeza de que Kerry vai ganhar esta eleição.

Folha - Por quê?
Carville -
Vou repetir. Porque Bush levou este país a uma guerra sem razão e a executou de maneira muito pobre. Isso é o mais importante. Além disso, tirou o país de uma situação de superávit fiscal e a transformou em déficit. Passou de um quadro de pleno emprego para altas taxas de desemprego.
O povo americano não está nem um pouco feliz com esse governo hoje e também não estará feliz no dia da eleição. Isso [a vitória de Bush] não vai acontecer.

Folha - Mas como isso ainda não aparece nas pesquisas?
Carville -
Meu amigo, mais pessoas votaram em Al Gore [candidato democrata em 2000] do que em Bush [o resultado da eleição foi decidido pela Suprema Corte]. Lá atrás as pessoas já tinham se dado conta de que Bush não era o sujeito certo para esse emprego.

Folha - O sr. esteve no Brasil há alguns anos trabalhando para Paulo Maluf. Ele é candidato novamente à Prefeitura de São Paulo. O que o sr. acha?
Carville -
Oh [risos], Paulo Maluf? O Maluf é um sujeito muito carismático. Ele vai até o fim nessa briga, tenho certeza disso.


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