São Paulo, domingo, 01 de setembro de 2002

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Viúva de policial cria associação de vítimas do ETA

DO ENVIADO A SAN SEBASTIÁN

Em 1994, Alfonso Morcillo, 40, chefe de polícia de San Sebastián, foi assassinado pelo ETA com um tiro na cabeça. Faltavam oito dias para o Natal. Sua mulher, Cati Moreno, tinha 32 anos. Não era basca. "Vim para San Sebastián por causa dele. Decidi ficar em sua memória", diz ela, que nasceu na região de Extremadura (sudoeste da Espanha).
O ETA justificou o atentado como uma resposta à morte de várias pessoas pela Guarda Civil. Para Moreno, seu marido foi assassinado por não tolerar informantes do ETA na polícia.
Em 1998, ela participou da criação do Coletivo de Vítimas do ETA (Colvite), em San Sebastián, da qual é secretária. A associação oferece apoio e reivindica justiça.
"No início foi difícil manter o Colvite. As vítimas tinham medo. Há sempre a preocupação de que, se alguém da família foi morto, é porque teria feito algo", diz. Hoje, a associação conta com 450 pessoas que foram vítimas, direta ou indiretamente, do ETA e de outras organizações terroristas.
"O medo é constante. Nunca sabemos com quem estamos falando", diz Moreno. Ela se recusou a passar um fax para o hotel onde se hospedava o repórter da Folha por temer que pudesse parar em mãos indevidas.
Moreno aprova a cassação do Batasuna, pois acredita que o partido tenha relações com o ETA. "Prefiro que estejam fora da lei. Falavam que haveria tumulto social. Até agora não houve nada. Vimos situações muito mais tensas no passado."
Para o balconista J.M., de um café no centro da cidade, o Batasuna e o ETA não são a mesma coisa, mas estão implicados um com o outro. "Ninguém nunca teve dúvida disso. O ETA foi importante no passado, na luta contra o franquismo e para o processo de autonomia dos bascos. Agora, esperava-se que eles entrassem em diálogo, como aconteceu com o Sinn Fein, na Irlanda."
Ele compara o ETA a uma teia de aranha. "Ele está por toda parte no País Basco. Seus tentáculos agem na política, na universidade, no comércio e na imprensa."
J.M. aponta para a porta. No final da rua, avista-se a orla marítima de San Sebastián. "Aqui é como o Rio de Janeiro, mas em tamanho menor. Se não fosse o terrorismo, seria o paraíso." San Sebastián é uma cidade elegante, de arquitetura extraordinária. É um dos principais centros urbanos do País Basco, hoje uma região muito próspera da Europa.



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