São Paulo, segunda-feira, 01 de novembro de 2004

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ELEIÇÃO NO URUGUAI

Esquerdista teve pouco mais da metade dos votos, segundo instituto; resultado oficial será divulgado hoje

Pesquisa coloca Vázquez perto da vitória

CLÁUDIA DIANNI
ENVIADA ESPECIAL A MONTEVIDÉU

As pesquisas de boca de urna realizadas ontem após o encerramento das eleições no Uruguai confirmaram o que todas os levantamentos já previam desde de julho: a vitória em primeiro turno do candidato de esquerda Tabaré Vázquez.
No entanto analistas estavam cautelosos ontem em confirmar que não haverá segundo turno no dia 28 de novembro porque cerca de 25% dos entrevistados não quiseram responder à pesquisa.
Quatro consultorias apontaram que Vázquez obteve entre 50,1% e 52,5% dos votos, o candidato Blanco Jorge Larrañaga teria obtido entre 29,9% e 34,2% dos votos e o candidato do governo, o colorado Guillermo Stirlling, entre 8,4% e 10,5% dos votos. O resultado oficial seria confirmado na madrugada de hoje.
O crescimento da esquerda no Uruguai tem sido consistente desde o surgimento da Frente Ampla, em 1971, e tem acompanhado o declínio dos tradicionais partidos Colorado (conservador-liberal) e Nacional ou Blanco(conservador-nacionalista) que se revezam no poder há 174 anos. Em 1994 Vázquez foi o mais votado no primeiro turno, mas não conseguiu vencer a união de forcas dos conservadores no segundo turno.
Agora a esquerda deve herdar um país com mais de 30% de pobreza, cem mil indigentes, 13% de desemprego, alto nível de desnutrição infantil e uma dívida externa que equivale a 106% do Produto Interno Bruto (PIB) do país.
Ao contrário do atual presidente colorado, Jorge Batlle, que afirmou não acreditar em planos sociais, mas em crescimento econômico, Vázquez já anunciou que deve adotar um plano de emergência e baseou suas propostas no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O médico oncologista e futuro presidente do Uruguai disse que pretende continuar atendendo pacientes pelo menos três vezes por semana.
Os atos e discursos políticos foram encerrados na quarta-feira passada, conforme determina a legislação eleitoral do Uruguai, mas a população ocupou o espaço antes dominado por candidatos e cabos eleitorais e tomou as ruas de de Montevidéu. A madrugada de sábado parecia noite de carnaval na capital uruguaia. O enredo da comemoração pelo exercício da democracia era tocado pelas buzinas dos automóveis que não pararam de soar até pelos menos as 3 horas da madrugada.
Da população de 3,3 milhões de uruguaios, 1,7 milhão estão em Montevidéu. A capital concentra mais da metade dos 2,4 milhões de eleitores do país.
"Vou comemorar toda a madrugada e depois faremos uma vigília na frente da sede do comitê eleitoral da Frente Ampla", disse Facundo Nuñez, de 20 anos, que comemorava seu primeiro voto presidencial com um grupo de amigos munido com bandeira.
O jornaleiro Gabriel Roberto Ures, de 73 anos, que acompanha a movimentação política há dias de sua banca na Avenida 18 de julho, disse que nunca viu uma eleição tão comemorada.
A polícia designou um efetivo de 8 mil homens para cuidar da segurança em todo o país até o meio dia de hoje. Mas até o final da tarde de ontem nenhuma ocorrência grave foi registrada.


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