São Paulo, domingo, 01 de novembro de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Índia vive alerta por interesse chinês em Estado no nordeste

Nova Déli reforça segurança em Arunachal Pradesh, área que Pequim chama de "Tibete Meridional"

JAMES LAMONT
DO "FINANCIAL TIMES", EM NOVA DÉLI

As crescentes reivindicações territoriais chinesas podem resultar no surgimento de duas frentes militares na fronteira norte da Índia, dentro de cinco anos, declarou anteontem Brajesh Mishra, antigo assessor de segurança nacional do governo de Nova Déli.
Mishra, que foi assessor do antigo primeiro-ministro Atul Behari Vajpayee e é próximo do atual premiê, Manmohan Singh, alertou sobre um "desafio sem precedentes" que envolveria frentes simultâneas de confronto com o Paquistão -rival histórico dos indianos- e a China.
"Nos dois últimos anos, as reivindicações territoriais chinesas quanto a Arunachal Pradesh ganharam estridência inédita. Eles vêm tomando firmemente a posição de que Arunachal não é parte da Índia, junto à comunidade internacional e em outros foros", disse Mishra.
O alerta surge em um momento de preocupação da liderança indiana quanto à batalha interna contra rebeldes maoístas e aos custos crescentes da segurança interna, que subiram em 25% neste ano. Índia e China travaram uma guerra pelo controle da região de Arunachal Pradesh, à qual a China dá o nome de "Tibete Meridional", em 1962.
Uma escalada forte nas tensões entre Pequim e Nova Déli com relação à região despertou especulações na Índia sobre a possibilidade de um ataque em sua fronteira de 4.000 km com a China, e levou o governo a reforçar suas defesas na região.
Os esforços malsucedidos de Pequim para torpedear o acordo nuclear assinado entre a Índia e os Estados Unidos no ano passado -que pôs fim ao status da Índia como pária nuclear- voltaram a despertar profundas ansiedades.
Neste ano, Pequim objetou à estratégia do Banco de Desenvolvimento Asiático para a Índia, que incluía empréstimos para projetos em Arunachal Pradesh.
Nova Déli também entrou em choque com Pequim acerca da política chinesa de concessão de vistos para moradores da Caxemira, que os indianos interpretam como um desafio à sua soberania.
Mishra disse que a Índia precisava reforçar suas Forças Armadas, porque, "nos próximos cinco anos, dada a mudança de atitude da China, duas frentes [militares] estarão ativas simultaneamente".
O ex-chefe dos serviços de informações também destacou as preocupações sobre a ampliação da assistência militar chinesa ao Paquistão, que, a despeito de estar combatendo militantes do Taleban na fronteira com o Afeganistão, continua a manter sua amarga hostilidade para com a Índia, com quem trava uma histórica disputa pela Caxemira.
"A China está apoiando o Paquistão, e especialmente as Forças Armadas paquistanesas", acusou Mishra. "A assistência da China às Forças Armadas paquistanesas é um fator muito importante no que tange a assistir e facilitar a realização de seus desígnios com relação à Índia", acrescentou.
Ele disse ainda que a assistência financeira dos EUA ao Exército do Paquistão havia tido "impacto adverso na Índia". Singh, o primeiro-ministro indiano, anteontem instou por moderação, enquanto prosseguem os esforços para resolver a disputa territorial com os chineses em Arunachal Pradesh. "Existem problemas. Temos um problema na fronteira. Mas concordamos em que, até que surja uma solução para a [questão da] fronteira, a paz e a tranquilidade precisam ser preservadas", declarou ele.

Tradução de PAULO MIGLIACCI



Texto Anterior: Venezuela enfrenta crise no abastecimento de água
Próximo Texto: Hillary se reúne com Abbas, mas impasse segue
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.