São Paulo, terça-feira, 01 de dezembro de 2009

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EUA reconhecem Lobo como presidente

Departamento de Estado adota cautela dizendo que eleição é parte de processo maior para devolver Honduras à ordem democrática

Hillary Clinton e Arturo Valenzuela entraram em contato com outros países da região para que também reconheçam o resultado

SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

Os EUA reconheceram ontem que Porfirio Lobo é o próximo presidente de Honduras, e que as eleições de anteontem, portanto, foram legítimas. Mas o Departamento de Estado advertiu que o que aconteceu foi só um passo de um processo maior cuja meta deve ser a volta do país à ordem democrática e à comunidade internacional.
Para Washington, entre os próximos passos a serem tomados pelo país estão a formação de um governo de união nacional, a criação de uma Comissão da Verdade, que investigue os acontecimentos em torno do golpe de Estado de junho, e a decisão amanhã, pelo Congresso hondurenho, sobre a volta ou não ao poder do líder deposto, Manuel Zelaya.
As informações foram dadas ontem pelo recém-empossado secretário-assistente para Assuntos do hemisfério Ocidental, Arturo Valenzuela, em encontro com jornalistas. Indagado pela Folha se havia alguma chance de os EUA não reconhecerem o resultado das eleições, o número um da diplomacia obamista para a região a princípio pareceu reticente.
"Não quero discutir hipóteses", disse. "O que está claro é que o povo hondurenho votou ontem [domingo] e que, por uma ampla margem, votou em um cavalheiro de nome Porfirio Lobo. Ele vai ser o próximo presidente de Honduras."
Para Valenzuela, para que os EUA e os países da região aceitem Honduras de volta à OEA (Organização dos Estados Americanos), o país terá de fazer mais do que simplesmente as eleições: "Terá de seguir um processo de reconciliação".
Mas "o fato de o comparecimento às urnas ter sido com a mesma margem de eleições anteriores, o fato de tantas pessoas terem votado em um candidato de oposição, são expressões do desejo [do povo hondurenho] de conseguir seguir adiante no processo".
Instado pelo jornal a dizer então se os EUA estavam com isso reconhecendo os resultados oficialmente, o diplomata disse: "Sim, nós prestamos atenção aos resultados. Nós reconhecemos que esses são os resultados das eleições em Honduras para essa eleição. Isso é claro. Nós reconhecemos esses resultados e cumprimentamos o senhor Lobo por ter ganho essas eleições".
Além disso, durante a coletiva, ele confirmou que a secretária de Estado, Hillary Clinton, e ele passaram horas falando com líderes de países da região para que adotem posição semelhante à de Washington.
Segundo o diplomata, houve mais receptividade dos países da América Central, embora ele disse ter falado com vários outros. Citou conversas suas com os líderes de Guatemala e Costa Rica e disse que Hillary ligou para seus colegas em Peru, Uruguai, Argentina e Brasil e falou com o presidente de El Salvador, Mauricio Funes.
Valenzuela mencionou a preocupação dos países participantes da Cúpula Ibero-Americana, em Portugal, com o precedente que o golpe de Estado abriria na América Latina, um dos argumentos usados pelo Brasil para não aceitar os resultados de domingo.
"Ele estão tão preocupados como nós com o golpe se tornando um precedente", disse. "Mas eles também vão, acho, buscar uma estratégia de saída, como nós. E essa estratégia passa pela eleição, assim como pela formação de um governo de união nacional e pela Comissão da Verdade."
Depois, nos corredores, indagado se havia um plano B, disse: "Não. Só um plano A".


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