São Paulo, sábado, 02 de fevereiro de 2008

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Governo e oposição fazem acordo no Quênia

Violência gerada por crise política já matou 850; relato de estupros dobrou desde eleições contestadas

DA REDAÇÃO

O governo do presidente Mwai Kibaki e o Movimento Democrático Laranja (ODM), principal partido de oposição do Quênia, concordaram ontem em agir para pôr fim à violência que assola o país desde as eleições de 27 de dezembro. O anúncio foi feito por Kofi Annan, ex-secretário-geral da ONU, que medeia o conflito.
O acordo tem quatro pontos e as negociações a respeito das ações para acabar com a crise política serão completadas durante os próximos 15 dias, disse Annan. Ele fez o anúncio após se reunir com Kibaki e com Raila Odinga, líder do ODM.
Os confrontos no Quênia começaram com a contestação das eleições, que reelegeram Kibaki apesar das denúncias generalizadas de fraudes. Mais de 850 pessoas morreram na violência que se seguiu e o conflito assumiu caráter étnico, envolvendo principalmente os grupos luo (de Odinga, que ficou em segundo lugar no pleito) e kikuyu (de Kibaki).
"Acreditamos que em até 15 dias poderemos abordar os três primeiros itens do acordo", disse Annan. "O primeiro é agir imediatamente para acabar com a violência." Os outros incluem prover assistência humanitária para os afetados pelos confrontos, resolver a crise política imediata e organizar uma solução de longo prazo.
Annan afirmou ter sugerido ao presidente o destacamento preventivo das Forças Armadas em alguns locais. "Todos têm que admitir que a polícia está no seu limite de atuação", disse o mediador. Ainda assim, em uma cúpula de líderes africanos na Etiópia, Kibaki afirmou ontem que "a segurança está sob controle" no país.
Ele se recusa a realizar novas eleições, como exige Odinga. Não se sabe que solução final será promovida pelo acordo.

Estupros
Enquanto a crise segue sem solução, a ONU detectou o aumento dos estupros no país, muitas vezes usados como forma de intimidação.
Ao menos 167 estupros foram reportados ao Hospital Feminino de Nairóbi no último mês -e a vítima mais nova tinha apenas um ano-, afirmou ontem Elisabeth Byrs, do escritório da ONU para a Coordenação de Assuntos Humanitários. Segundo ela, os índices gerais do crime mais do que dobraram desde dezembro, e trabalhadores humanitários crêem que o número de casos relatados é só uma fração da realidade.
A ONU indicou que não está claro quem são os autores dos ataques. O aumento é reflexo, em parte, do colapso da ordem social no Quênia, afirmou Byrs.
Ainda ontem, ao menos nove pessoas morreram no oeste do país. Uma das vítimas era um policial, que foi atacado por uma multidão de 3.000 pessoas. Ao menos duas mortes ocorram por meio de flechas envenenadas, segundo testemunhas. As tribos kalenjin -da qual fazia parte um parlamentar do ODM recentemente assassinado- e kisii protagonizaram os piores confrontos.


Com Associated Press e Reuters


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