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Kirchner faz campanha no Congresso
Em seu último discurso ao Legislativo antes da eleição presidencial, argentino ataca o FMI e usa retórica anti-EUA
"A Argentina sempre será latino-americanista", diz presidente; definição sobre candidatura de primeira-dama ficou para depois
BRUNO LIMA
DE BUENOS AIRES
Em clima de campanha política, o presidente da Argentina,
Néstor Kirchner, exaltou ontem as vitórias de seu governo
em duas horas e quinze minutos de um discurso transmitido
ao vivo pelos principais canais
abertos de TV do país.
Ele defendeu a parceria com
a Venezuela de Hugo Chávez e,
despegando-se da imagem "entreguista" que atribui aos ex-presidentes Carlos Menem
(1989-1999) e Fernando de la
Rúa (1999-2001), enviou novo
recado aos EUA.
"A Argentina da crise está ficando para trás", disse Kirchner. "É hora de atingirmos a
maioridade. Não tenhamos
medo, porque ninguém se subordina ideologicamente a ninguém. Este país sempre será latino-americanista, independente, plural", declarou.
Foi o último pronunciamento de Kirchner no Congresso
argentino antes das eleições
para a Casa Rosada, em outubro. Não se sabe ainda se o presidente concorrerá à reeleição
ou se vai apoiar o nome da mulher, a senadora Cristina Kirchner. Ele não deu pistas ontem
sobre a decisão que tomará. O
discurso abriu as atividades do
ano legislativo.
O presidente também avisou
que não negociará com o FMI a
dívida da Argentina com o Clube de Paris, que reúne 19 países
que são credores internacionais. A exigência de que o país
fizesse um acordo de pagamento através do FMI veio dos credores e do próprio Fundo.
A Argentina deve cerca de
US$ 6,5 bilhões ao Clube de Paris. Buenos Aires quer três anos
de carência, seguidos de dez
anos para pagar, com taxa de
6,5% ao ano. "Aqui que vamos
voltar a fazer um acordo com o
FMI", disse Kirchner, em tom
desafiador.
Também questionou o presidente do Uruguai, Tabaré Vázquez, por não ceder nas negociações relativas ao conflito sobre a instalação das indústrias
de celulose. "Negociar é conceder. Negociar fazendo só o que
vocês crêem que deve ser não é
negociar", disse.
"Estamos reclamando com
Justiça. Não fomos nós que violamos o Tratado do Rio Uruguai. Os irmãos uruguaios a
quem tanto queremos, com essa atitude estão cometendo um
erro estratégico", afirmou.
Chuva e papel picado
Quando chegou ao prédio do
Congresso, por volta do meio-dia de ontem, Kirchner foi recebido, sob chuva, por dezenas
de pessoas, boa parte representantes de grupos piqueteiros favoráveis ao governo. No plenário, onde tem ampla maioria, o
presidente foi recebido por
uma chuva de papel picado.
Membros da Juventude Peronista -organização da qual o
próprio presidente fez parte-
cantaram para o presidente.
Também no plenário estava
o deputado Mauricio Macri, líder da coalizão de centro-direita PRO, que nesta semana
anunciou que não concorrerá à
Presidência da Argentina, mas
sim ao governo da cidade de
Buenos Aires. A decisão abriu
espaço para uma aliança oposicionista contra Kirchner e fortaleceu a candidatura do ex-ministro da Economia Roberto
Lavagna.
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