São Paulo, sexta-feira, 02 de março de 2007

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Kirchner faz campanha no Congresso

Em seu último discurso ao Legislativo antes da eleição presidencial, argentino ataca o FMI e usa retórica anti-EUA

"A Argentina sempre será latino-americanista", diz presidente; definição sobre candidatura de primeira-dama ficou para depois

BRUNO LIMA
DE BUENOS AIRES

Em clima de campanha política, o presidente da Argentina, Néstor Kirchner, exaltou ontem as vitórias de seu governo em duas horas e quinze minutos de um discurso transmitido ao vivo pelos principais canais abertos de TV do país.
Ele defendeu a parceria com a Venezuela de Hugo Chávez e, despegando-se da imagem "entreguista" que atribui aos ex-presidentes Carlos Menem (1989-1999) e Fernando de la Rúa (1999-2001), enviou novo recado aos EUA.
"A Argentina da crise está ficando para trás", disse Kirchner. "É hora de atingirmos a maioridade. Não tenhamos medo, porque ninguém se subordina ideologicamente a ninguém. Este país sempre será latino-americanista, independente, plural", declarou.
Foi o último pronunciamento de Kirchner no Congresso argentino antes das eleições para a Casa Rosada, em outubro. Não se sabe ainda se o presidente concorrerá à reeleição ou se vai apoiar o nome da mulher, a senadora Cristina Kirchner. Ele não deu pistas ontem sobre a decisão que tomará. O discurso abriu as atividades do ano legislativo.
O presidente também avisou que não negociará com o FMI a dívida da Argentina com o Clube de Paris, que reúne 19 países que são credores internacionais. A exigência de que o país fizesse um acordo de pagamento através do FMI veio dos credores e do próprio Fundo.
A Argentina deve cerca de US$ 6,5 bilhões ao Clube de Paris. Buenos Aires quer três anos de carência, seguidos de dez anos para pagar, com taxa de 6,5% ao ano. "Aqui que vamos voltar a fazer um acordo com o FMI", disse Kirchner, em tom desafiador.
Também questionou o presidente do Uruguai, Tabaré Vázquez, por não ceder nas negociações relativas ao conflito sobre a instalação das indústrias de celulose. "Negociar é conceder. Negociar fazendo só o que vocês crêem que deve ser não é negociar", disse.
"Estamos reclamando com Justiça. Não fomos nós que violamos o Tratado do Rio Uruguai. Os irmãos uruguaios a quem tanto queremos, com essa atitude estão cometendo um erro estratégico", afirmou.

Chuva e papel picado
Quando chegou ao prédio do Congresso, por volta do meio-dia de ontem, Kirchner foi recebido, sob chuva, por dezenas de pessoas, boa parte representantes de grupos piqueteiros favoráveis ao governo. No plenário, onde tem ampla maioria, o presidente foi recebido por uma chuva de papel picado.
Membros da Juventude Peronista -organização da qual o próprio presidente fez parte- cantaram para o presidente.
Também no plenário estava o deputado Mauricio Macri, líder da coalizão de centro-direita PRO, que nesta semana anunciou que não concorrerá à Presidência da Argentina, mas sim ao governo da cidade de Buenos Aires. A decisão abriu espaço para uma aliança oposicionista contra Kirchner e fortaleceu a candidatura do ex-ministro da Economia Roberto Lavagna.


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