São Paulo, terça-feira, 02 de março de 2010

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Lula deve se reunir com dissidentes no Irã, afirma ministro

Paulo Vannuchi, da Secretaria Especial de Direitos Humanos, diz que política brasileira de insistência no diálogo começa a dar frutos

Ministro critica Cuba por manter presos de opinião, mas diz que "é preciso levar em conta que houve ataques e espionagem" contra o país


LUCIANA COELHO
DE GENEBRA

É muito provável que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva se reúna com dissidentes e opositores ao governo de Mahmoud Ahmadinejad quando visitar Teerã em 15 de maio, afirmou o ministro Paulo Vannuchi, da Secretaria Especial dos Direitos Humanos.
O encontro é um pedido feito por ativistas iranianos e organizações de direitos humanos, tendo à frente a advogada e Nobel da Paz Shirin Ebadi, para quem a visita não terá valor se se restringir ao governo.
"Eu trabalho como assessor do Lula há 30 anos. Ele foi recebido como oposição por vários governos, então ele é sensível a essa questão", declarou Vannuchi ontem à Folha em Genebra, onde está para a abertura da sessão anual do Conselho de Direitos Humanos da ONU.
O ministro disse estar em sintonia com a diplomacia brasileira e afirmou que a busca pelo diálogo defendida pelo Itamaraty, em contraposição a condenações e críticas duras, produz os primeiros frutos.
"Se a [secretária de Estado dos EUA] Hillary [Clinton] pedir ao Irã, talvez não adiante, mas, se o presidente Lula pedir, "olha, há uma condenação dos líderes da fé bahá"i" [minoria religiosa perseguida por Teerã], o Irã poderia rever."
O Brasil assumiu um tom mais duro com Teerã em relação a direitos humanos e recomendou ao governo iraniano em plenária em Genebra que receba relatores especiais da ONU para verificar violações e dialogue com a oposição.
Ao mesmo tempo, evita condenações explícitas, e, no Conselho de Segurança das Nações Unidas, em Nova York, se opõe a novas sanções contra o país que defendem os EUA, a França e outros para pressionar pelo fim de seu programa nuclear.
"Nossa aposta é que, ao manter essa posição, lideranças como a iraniana também responderão com novas aberturas."
A posição se repete em relação a Cuba, país para o qual a retórica brasileira é ainda mais branda (algo que Vannuchi atribui à proximidade geográfica, histórica e afetiva para a esquerda brasileira). Na semana passada, o presidente Lula foi constrangido quando Orlando Zapata, um dissidente político preso pelo regime dos irmãos Castro, morreu após três meses em greve de fome.
Indagado se o Brasil não deveria estimular o diálogo entre esses governos aliados e seus opositores de modo mais efetivo, o ministro disse que o presidente Lula já o faz em caráter privado, e o tema é recorrente em conversas entre líderes.
Mas ele destoou ao criticar Havana por manter prisioneiros de consciência, ainda que marcando nuances e ressalvas.
Em alusão aos EUA, disse que "é preciso levar em conta que houve ataques, invasões, espionagem permanente". "Isso não justifica, mas explica o fato de Cuba ter hoje um regime político com o constrangimento -e ainda azar do presidente- de acontecer a morte de um dissidente nesta hora."
"Não se pode ter presos de opinião. E eu digo isso com esse respeito que tenho por Cuba", afirmou, completando que a questão dos direitos humanos não acompanhou ainda os avanços sociais da ilha.


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