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Lula deve se reunir com dissidentes no Irã, afirma ministro
Paulo Vannuchi, da Secretaria Especial de Direitos Humanos, diz que política brasileira de insistência no diálogo começa a dar frutos
Ministro critica Cuba por manter presos de opinião, mas diz que "é preciso levar em conta que houve ataques e espionagem" contra o país
LUCIANA COELHO
DE GENEBRA
É muito provável que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva
se reúna com dissidentes e opositores ao governo de Mahmoud Ahmadinejad quando visitar Teerã em 15 de maio, afirmou o ministro Paulo Vannuchi, da Secretaria Especial dos
Direitos Humanos.
O encontro é um pedido feito
por ativistas iranianos e organizações de direitos humanos,
tendo à frente a advogada e Nobel da Paz Shirin Ebadi, para
quem a visita não terá valor se
se restringir ao governo.
"Eu trabalho como assessor
do Lula há 30 anos. Ele foi recebido como oposição por vários
governos, então ele é sensível a
essa questão", declarou Vannuchi ontem à Folha em Genebra, onde está para a abertura
da sessão anual do Conselho de
Direitos Humanos da ONU.
O ministro disse estar em
sintonia com a diplomacia brasileira e afirmou que a busca
pelo diálogo defendida pelo
Itamaraty, em contraposição a
condenações e críticas duras,
produz os primeiros frutos.
"Se a [secretária de Estado
dos EUA] Hillary [Clinton] pedir ao Irã, talvez não adiante,
mas, se o presidente Lula pedir,
"olha, há uma condenação dos
líderes da fé bahá"i" [minoria
religiosa perseguida por Teerã], o Irã poderia rever."
O Brasil assumiu um tom
mais duro com Teerã em relação a direitos humanos e recomendou ao governo iraniano
em plenária em Genebra que
receba relatores especiais da
ONU para verificar violações e
dialogue com a oposição.
Ao mesmo tempo, evita condenações explícitas, e, no Conselho de Segurança das Nações
Unidas, em Nova York, se opõe
a novas sanções contra o país
que defendem os EUA, a França e outros para pressionar pelo fim de seu programa nuclear.
"Nossa aposta é que, ao manter essa posição, lideranças como a iraniana também responderão com novas aberturas."
A posição se repete em relação a Cuba, país para o qual a
retórica brasileira é ainda mais
branda (algo que Vannuchi
atribui à proximidade geográfica, histórica e afetiva para a esquerda brasileira). Na semana
passada, o presidente Lula foi
constrangido quando Orlando
Zapata, um dissidente político
preso pelo regime dos irmãos
Castro, morreu após três meses em greve de fome.
Indagado se o Brasil não deveria estimular o diálogo entre
esses governos aliados e seus
opositores de modo mais efetivo, o ministro disse que o presidente Lula já o faz em caráter
privado, e o tema é recorrente
em conversas entre líderes.
Mas ele destoou ao criticar
Havana por manter prisioneiros de consciência, ainda que
marcando nuances e ressalvas.
Em alusão aos EUA, disse
que "é preciso levar em conta
que houve ataques, invasões,
espionagem permanente". "Isso não justifica, mas explica o
fato de Cuba ter hoje um regime político com o constrangimento -e ainda azar do presidente- de acontecer a morte
de um dissidente nesta hora."
"Não se pode ter presos de
opinião. E eu digo isso com esse respeito que tenho por Cuba", afirmou, completando que
a questão dos direitos humanos não acompanhou ainda os
avanços sociais da ilha.
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