São Paulo, terça-feira, 02 de março de 2010

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Espanha cobra Venezuela devido a suposta relação com ETA e Farc

Segundo juiz espanhol, Caracas "coopera" com os grupos basco e colombiano

FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS

O governo espanhol pediu explicações ontem à Venezuela sobre uma suposta "cooperação", revelada por uma investigação judicial, do governo Hugo Chávez com o grupo separatista basco ETA (Pátria Basca e Liberdade) e com as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), a principal guerrilha desse país. A atuação conjunta incluiria um plano para assassinar o presidente colombiano, Álvaro Uribe. Caracas negou as acusações.
O anúncio foi feito ontem pelo primeiro-ministro José Luis Rodríguez Zapatero, durante visita à Alemanha. Segundo ele, a Chancelaria espanhola fez "gestões oportunas" com Caracas pedindo explicações.
"Estamos à espera das explicações por parte da Venezuela e, em decorrência dessa explicação, o governo da Espanha atuará", disse Zapatero, que afirmou "respeitar" a investigação judicial sobre o caso.
O processo está sob a responsabilidade do juiz Eloy Velasco, da Audiência Nacional, órgão máximo do Judiciário espanhol para casos de terrorismo. As acusações envolvem seis supostos membros do ETA e sete das Farc, que teriam pedido ajuda ao grupo separatista basco para matar tanto Uribe quanto o seu antecessor, Andrés Pastrana (1998-2002).
No processo, cujo conteúdo também foi revelado ontem, Velasco afirma que há evidências de "cooperação governamental na ilícita colaboração" entre ETA e Farc.
De acordo com a investigação espanhola, dois representantes das Farc foram em 2000 e "mais recentemente" à Espanha negociar os atentados contra Pastrana e Uribe. Um dos envolvidos seria o etarra Arturo Cubillas Fontán, 46, que vive na Venezuela desde 1989, antes do governo Chávez.
Cubillas, que tem um cargo diretivo no Ministério da Agricultura venezuelano, é apontado pela investigação espanhola como o ponto de contato entre o ETA e as Farc. Em contrapartida à ajuda do ETA para matar os presidentes, a guerrilha forneceria treinamento militar aos separatistas na Colômbia.
Em Montevidéu para a posse de José Mujica, Chávez disse que as acusações são "tristes restos de um passado colonial".
Em nota, a Chancelaria disse que a presença de Cubillas se deve a acordo feito entre os ex-presidentes Carlos Andrés Pérez (Venezuela) e Felipe González (Espanha) e que a investigação usou dados do computador do líder das Farc Raúl Reyes, morto em 2008 por Bogotá, considerados falsos por Caracas, mas ratificados pela Interpol (polícia internacional).
Já Uribe, também no Uruguai, pregou "reação prudente" e disse que acionará canais diplomáticos para obter detalhes.


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