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Mujica cobra mais equilíbrio do Mercosul
Ao tomar posse no Uruguai, ex-guerrilheiro, que terá maioria no Parlamento, prega pacto com oposição
EDUARDO SCOLESE
ENVIADO ESPECIAL A MONTEVIDÉU
Ao tomar posse ontem como
presidente uruguaio, o ex-guerrilheiro José Mujica, 75, convocou a oposição a abraçar temas
de interesse nacional, como
educação e produção de energia, e, diante do colega brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, cobrou reciprocidade aos "sócios
maiores" do Mercosul.
Na fala de posse, no Congresso, em Montevidéu, Mujica defendeu o bloco sul-americano,
mas fez ressalvas, o que provocou aplausos de parlamentares
e de chefes de Estados.
"Mercosul, ai Mercosul.
Quanto amor e quanto aborrecimento nos envolvem", disse.
"O Mercosul, para nós, é até
que a morte nos separe e esperamos uma atitude recíproca
dos nossos grandes parceiros",
completou, sem citar nominalmente Brasil e Argentina.
Mais tarde, antes de deixar o
país, Lula disse concordar com
a cobrança do uruguaio: "Eu
compactuo com o companheiro Mujica. Um país do tamanho
do Brasil, do tamanho da Argentina, os países maiores têm
de ter mais generosidade com
os países menores", disse.
Além de reivindicar medidas
para equilibrar as relações econômicas dentro do bloco, o
Uruguai mantém contencioso
com a Argentina, que se opõe à
instalação de uma fábrica de
papel em solo uruguaio, na
fronteira entre os países.
Ex-guerrilheiro eleito por
uma coalizão de esquerda
(Frente Ampla), Mujica fez ontem uma fala pragmática. Apesar de possuir maioria parlamentar, disse que temas de importância nacional devem ser
discutidos, definidos e assumidos por governo e oposição.
Durante sua campanha, Mujica citou diversas vezes o presidente Lula como um exemplo.
Na ocasião, chegou a falar justamente num pacto multipartidário. Ontem ele apontou educação, produção de energia,
ambiente e segurança como temas a serem discutidos em
conjunto com os opositores.
Para priorizar a educação,
por exemplo, disse que outros
investimentos no país terão de
ser cancelados ou adiados. "Nenhum partido vai querer ser o
único responsável por todo o
desgaste que isso [adiamento
de projetos] pode trazer."
Preso durante 14 anos, Mujica pediu o comprometimento
da oposição também no dilema
entre produção e preservação
ambiental. "O sistema político
terá de ser honesto e corajoso,
porque, para cuidar do meio
ambiente, terão de renunciar a
alguma produção. Ou, da mesma forma, para sustentar a produção, irá reduzir o desejo de
uma natureza intocada", disse.
Numa referência ao agora ex-presidente Tabaré Vázquez,
parceiro de campanha eleitoral
e membro da mesma coalizão,
disse ter descoberto que "governar é muito mais difícil do
que pensávamos".
Além de Lula, entre outros,
participaram dos eventos de
posse Hugo Chávez (Venezuela), Cristina Kirchner (Argentina), Evo Morales (Bolívia) e a
secretária de Estado dos Estados Unidos, Hillary Clinton.
Mujica começou a jornada de
posse com um desfile em carro
aberto e recebeu o juramento
da mulher, a senadora Lucía
Topolansky, a mais bem votada
nas eleições de 2009.
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