São Paulo, terça-feira, 02 de março de 2010

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Mujica cobra mais equilíbrio do Mercosul

Ao tomar posse no Uruguai, ex-guerrilheiro, que terá maioria no Parlamento, prega pacto com oposição

EDUARDO SCOLESE
ENVIADO ESPECIAL A MONTEVIDÉU

Ao tomar posse ontem como presidente uruguaio, o ex-guerrilheiro José Mujica, 75, convocou a oposição a abraçar temas de interesse nacional, como educação e produção de energia, e, diante do colega brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, cobrou reciprocidade aos "sócios maiores" do Mercosul.
Na fala de posse, no Congresso, em Montevidéu, Mujica defendeu o bloco sul-americano, mas fez ressalvas, o que provocou aplausos de parlamentares e de chefes de Estados.
"Mercosul, ai Mercosul. Quanto amor e quanto aborrecimento nos envolvem", disse. "O Mercosul, para nós, é até que a morte nos separe e esperamos uma atitude recíproca dos nossos grandes parceiros", completou, sem citar nominalmente Brasil e Argentina.
Mais tarde, antes de deixar o país, Lula disse concordar com a cobrança do uruguaio: "Eu compactuo com o companheiro Mujica. Um país do tamanho do Brasil, do tamanho da Argentina, os países maiores têm de ter mais generosidade com os países menores", disse.
Além de reivindicar medidas para equilibrar as relações econômicas dentro do bloco, o Uruguai mantém contencioso com a Argentina, que se opõe à instalação de uma fábrica de papel em solo uruguaio, na fronteira entre os países.
Ex-guerrilheiro eleito por uma coalizão de esquerda (Frente Ampla), Mujica fez ontem uma fala pragmática. Apesar de possuir maioria parlamentar, disse que temas de importância nacional devem ser discutidos, definidos e assumidos por governo e oposição.
Durante sua campanha, Mujica citou diversas vezes o presidente Lula como um exemplo. Na ocasião, chegou a falar justamente num pacto multipartidário. Ontem ele apontou educação, produção de energia, ambiente e segurança como temas a serem discutidos em conjunto com os opositores.
Para priorizar a educação, por exemplo, disse que outros investimentos no país terão de ser cancelados ou adiados. "Nenhum partido vai querer ser o único responsável por todo o desgaste que isso [adiamento de projetos] pode trazer."
Preso durante 14 anos, Mujica pediu o comprometimento da oposição também no dilema entre produção e preservação ambiental. "O sistema político terá de ser honesto e corajoso, porque, para cuidar do meio ambiente, terão de renunciar a alguma produção. Ou, da mesma forma, para sustentar a produção, irá reduzir o desejo de uma natureza intocada", disse.
Numa referência ao agora ex-presidente Tabaré Vázquez, parceiro de campanha eleitoral e membro da mesma coalizão, disse ter descoberto que "governar é muito mais difícil do que pensávamos".
Além de Lula, entre outros, participaram dos eventos de posse Hugo Chávez (Venezuela), Cristina Kirchner (Argentina), Evo Morales (Bolívia) e a secretária de Estado dos Estados Unidos, Hillary Clinton.
Mujica começou a jornada de posse com um desfile em carro aberto e recebeu o juramento da mulher, a senadora Lucía Topolansky, a mais bem votada nas eleições de 2009.


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