São Paulo, quinta-feira, 02 de maio de 2002

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Israel levanta o cerco a Arafat

DA REDAÇÃO

Após a Autoridade Nacional Palestina entregar a agentes britânicos e americanos seis palestinos procurados por Israel, forças israelenses encerraram o confinamento de mais de um mês do líder palestino Iasser Arafat em seu quartel-general em Ramallah (Cisjordânia). Arafat, a partir de agora, poderá transitar pela Cisjordânia e pela faixa de Gaza e mesmo viajar ao exterior.
As tropas israelenses que cercavam o QG de Arafat deixaram o local ontem à noite. Cerca de 200 palestinos se reuniram diante do edifício para comemorar a libertação do líder. A desocupação total da cidade estava prevista para ocorrer na manhã de hoje.
Mas, em sua primeira declaração após a retirada de Israel, Arafat deu um soco em uma mesa e chamou israelenses de "terroristas" ao saber dos confrontos em Belém (leia texto ao lado). "Não me importo se esta sala onde estou explodir. O que me preocupa é o que está acontecendo na igreja da Natividade. Esse é um crime que não pode ser perdoado."
A liberação de Arafat encerra um dos episódios mais marcantes da Intifada (levante palestino contra a ocupação israelense) iniciada em setembro de 2000. Ela ocorreu após acordo mediado pelos EUA, que determinou a transferência dos seis palestinos, que estavam com Arafat em seu QG, para uma prisão em Jericó (Cisjordânia). Britânicos e norte-americanos escoltaram os seis homens e permanecerão na cidade palestina para garantir que eles não sejam libertados.
Horas depois, os tanques israelenses começaram a deixar os arredores do quartel-general, levantando o cerco iniciado em 29 de março, junto com a ofensiva israelense na Cisjordânia para, segundo o país, desmontar a "infra-estrutura terrorista" na região.
Quatro dos homens entregues a Israel são membros do grupo extremista FPLP (Frente Popular pela Libertação da Palestina) e responsáveis pela morte de um ministro israelense em outubro. Eles foram condenados na semana passada a penas de 1 a 18 anos de prisão por uma corte palestina improvisada no QG de Arafat. Outro detido é um dos líderes da FPLP, e os sexto, tesoureiro de Arafat, é acusado de envolvimento em contrabando de armas.
Israel está se retirando gradualmente da maior parte das cidades palestinas que reocupou. Agora apenas a igreja da Natividade, em Belém, permanece cercada.
O premiê de Israel, Ariel Sharon, irá aos EUA na próxima semana para reunião com o presidente George W. Bush. Fontes em Washington afirmam que Bush pressionará pela retomada de negociações de paz. O ministro da Defesa de Israel, Binyamin Ben Eliezer, defendeu ontem "negociações políticas imediatas" com os palestinos. Segundo Sharon, o diálogo só deve ocorrer após um cessar-fogo com os palestinos.
Arafat não deixa Ramallah desde 3 de dezembro, quando sua saída da cidade foi impedida por forças israelenses após atentados terroristas. "Arafat permanecerá por enquanto no QG", disse ontem seu porta-voz Nabil Abu Rudeinah, "se concentrando na crise nos territórios palestinos". Em seguida, ele deve ir para o exterior.
Israel afirma que Arafat não está agindo para combater -ou até mesmo apóia- o terrorismo.
Em Israel, houve oposição à retirada. O ex-premiê Benyamin Netanyahu, do Likud, partido de Sharon, disse que Arafat deveria ser expulso dos territórios palestinos por ser conivente com o terrorismo. Ao menos 1.332 palestinos e 458 israelenses morreram desde o início da Intifada.


Com agências internacionais


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