São Paulo, quinta-feira, 02 de maio de 2002

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ANÁLISE

Líder terá de reformar administração palestina

RAWHI ABEIDOH
DA REUTERS, EM JERUSALÉM

Algumas autoridades e intelectuais palestinos começam a questionar a atuação do presidente da Autoridade Nacional Palestina, Iasser Arafat, na crise atual.
Eles dizem que o líder palestino precisará fazer uma revisão completa de sua administração após a retirada dos israelenses. "Há um grande ressentimento em relação a Israel, porém há alguma desconfiança em relação à ANP", afirma Ali al Jirbawi, professor de ciência política da Universidade Bir Zeit, uma das mais conceituadas nos territórios palestinos.
Jirbawi acrescenta que "os palestinos estão em um estado de choque e de incredulidade. Eles estão se perguntando porque chegaram a esse ponto, de destruição e anarquia sem nenhuma luz no fim do túnel".
Poucos palestinos questionam o status de Arafat como líder, mas muitos o criticam por sua liderança autocrática, sua inabilidade para articular a causa palestina e sua tolerância com a corrupção.
Manuel Hassassian, professor de ciência política da Universidade de Belém, disse que a situação, uma vez encerrada a ofensiva, se mostrará catastrófica.
Algumas autoridades palestinas concordam que é preciso realizar reformas, mas insistem que nada pode ser feito sob pressão externa.
"A ANP não pode continuar sendo como era antes. Devem ser realizadas mudanças fundamentais em todos os níveis", disse Mohamed Dahlan, chefe da segurança palestina. "Arafat sabe disso, e podemos ter esperança que sairemos dessa crise".
Palestinos afirmam que o Exército de Israel demoliu instalações de segurança e saquearam ministérios em um esforço deliberado para destruir suas incipientes instituições e criar anarquia. "O objetivo de Sharon é mudar o cenário que resultou dos acordos de Oslo, que vai contra a sua idéia de manter a nossa terra", disse o analista palestino Ghassan al Khatib.
Muitos analistas palestinos acreditam que a maior derrota deles foi o fim dos sete anos de lua-de-mel com os EUA, após o ex-presidente Bill Clinton deixar a Casa Branca no início do ano passado.
O atual presidente dos EUA, George W. Bush, tem se mostrado desapontado com a performance de Arafat para combater a violência contra Israel.
Uma autoridade palestina, que preferiu não se identificar, disse que Arafat sempre preferiu permanecer numa zona cinzenta em relações aos atentados contra Israel. "Suas ordens para um cessar-fogo nunca foram muito claras para os militantes", disse ele, apesar das pressões internacionais para uma posição firme contra o terrorismo.
Vários ataques contra israelenses na Intifada foram realizados pelo grupo extremista Brigadas dos Mártires de Al Aqsa, ligado ao Fatah (facção política de Arafat).
Uma coisa que todos palestinos concordam é que não há dúvida de que o isolamento de Arafat imposto por Sharon apenas fortaleceu o líder palestino perante o mundo árabe e os próprios palestinos.
"O objetivo israelense de isolar Arafat e torná-lo irrelevante falhou totalmente", disse Khatib, ressaltando que até mesmo o secretário de Estado dos EUA, Colin Powell, se reuniu duas vezes com o líder palestino.
Para o analista, Sharon não convenceu outros países de que Arafat poderia ser substituído por outras lideranças. Para Abdel Bary Atwan, editor do diário árabe publicado em Londres "Al Quds Al Arabi", "a principal fonte de poder de Arafat é não haver nenhuma alternativa a ele. Livrar-se dele significa a anarquia".



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