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Lepenistas "saem da toca" em marcha
DE PARIS
Os eleitores de Jean-Marie Le
Pen mostraram ontem sua cara
em Paris. Nos últimos dias, a
França se perguntava quem seriam os 4 milhões que elegeram a
extrema direita no primeiro turno
da eleição presidencial. Lá estavam 10 mil militantes, numa passeata que durou quatro horas pelo
centro da capital.
"Você sabe por que estou de boné e de óculos?", pergunta o estudante de engenharia Ramon, 21.
"Para não ser reconhecido na faculdade. Existe uma pressão muito grande contra o fascismo na
França. A extrema esquerda, que
virou moda, é muito forte", diz.
A opção por Le Pen era até agora um voto envergonhado. Com o
candidato no segundo turno, os
lepenistas saíram da toca. O desfile em Paris, feito anualmente em
homenagem a Joana d'Arc, desta
vez foi uma demonstração de força eleitoral e de orgulho ideológico. "Houve no passado pressões e
ameaças contra os eleitores de Le
Pen, escandalosas numa democracia. Mas, agora, eles farão ouvir no segundo turno que são
franceses como os outros, que
não querem mais ser injuriados e
humilhados", diz à Folha a filha
caçula de Le Pen, Marine, 33, no
meio da passeata.
Os partidários de Le Pen chegaram de várias regiões da França.
Desembarcaram pela manhã na
capital, trazendo famílias inteiras.
Eles seguem em blocos, divididos
por região, carregando cartazes
como "Orgulhoso de ser francês".
Associações de direita também
acompanham a passeata, como os
cantores do Coro Monjoie Saint
Denis, que interpretam músicas
francesas tradicionais. Eles seguem num grupo de mais de dez
pessoas, vestidos com uma boina
tipicamente francesa e carregando debaixo do braço uma baguete. "As nações estão se dispersando com a Europa burocrática. É
preciso perpetuar a imagem da
França. Le Pen continuará a nossa
história tradicional", diz um dos
cantores, Henri, 48.
Também vieram formações de
extrema direita da Itália, da Bélgica, da Suécia e da Polônia. "Estamos com Le Pen por uma Europa
formada por pátrias e não por comissários", afirma Tomasz Karbowski, vice-presidente do movimento político polonês Alternatywa, também com roupas típicas.
Le Pen, 74, segue à frente do
desfile. Vai acompanhado da mulher, Jany, 69, de chapéu cor-de-rosa. Atrás dele, a Frente Nacional
(FN) colocou a brigada de jovens,
para transmitir uma imagem de
renovação. Ao chegar perto da estátua dourada de Joana d'Arc, Le
Pen deposita um buquê de flores.
A FN organizou a passeata de
modo a amenizar sua imagem de
radicalismo político. Pediu a militantes ultra-extremistas, como os
neonazistas, que não fizessem demonstrações de força. Eles compareceram sem os uniformes e as
suásticas. Escondiam as cabeças
raspadas com bonés e, às vezes,
ocultavam o rosto com bandanas.
Alguns eram reconhecidos pela
tatuagem "88" -duas vezes a oitava letra do alfabeto, ou seja,
"HH", de "Heil Hitler".
A passeata foi considerada de
alto risco pela polícia francesa,
que colocou brigadas nas ruas
anexas a fim de evitar o avanço de
blocos antilepenistas. De repente,
um corre-corre. A polícia prendeu um negro, que teria feito uma
provocação aos manifestantes.
Na praça da Ópera, Le Pen começa seu longo discurso, de uma
hora e 20 minutos. À 1h30, a manifestação termina. Os cafés e restaurantes do local estão fechados.
Os lepenistas, famintos, correm às
barracas de sanduíches, armadas
no local por imigrantes.
(ALN)
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