São Paulo, quinta-feira, 02 de maio de 2002

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Lepenistas "saem da toca" em marcha

DE PARIS

Os eleitores de Jean-Marie Le Pen mostraram ontem sua cara em Paris. Nos últimos dias, a França se perguntava quem seriam os 4 milhões que elegeram a extrema direita no primeiro turno da eleição presidencial. Lá estavam 10 mil militantes, numa passeata que durou quatro horas pelo centro da capital.
"Você sabe por que estou de boné e de óculos?", pergunta o estudante de engenharia Ramon, 21. "Para não ser reconhecido na faculdade. Existe uma pressão muito grande contra o fascismo na França. A extrema esquerda, que virou moda, é muito forte", diz.
A opção por Le Pen era até agora um voto envergonhado. Com o candidato no segundo turno, os lepenistas saíram da toca. O desfile em Paris, feito anualmente em homenagem a Joana d'Arc, desta vez foi uma demonstração de força eleitoral e de orgulho ideológico. "Houve no passado pressões e ameaças contra os eleitores de Le Pen, escandalosas numa democracia. Mas, agora, eles farão ouvir no segundo turno que são franceses como os outros, que não querem mais ser injuriados e humilhados", diz à Folha a filha caçula de Le Pen, Marine, 33, no meio da passeata.
Os partidários de Le Pen chegaram de várias regiões da França. Desembarcaram pela manhã na capital, trazendo famílias inteiras. Eles seguem em blocos, divididos por região, carregando cartazes como "Orgulhoso de ser francês". Associações de direita também acompanham a passeata, como os cantores do Coro Monjoie Saint Denis, que interpretam músicas francesas tradicionais. Eles seguem num grupo de mais de dez pessoas, vestidos com uma boina tipicamente francesa e carregando debaixo do braço uma baguete. "As nações estão se dispersando com a Europa burocrática. É preciso perpetuar a imagem da França. Le Pen continuará a nossa história tradicional", diz um dos cantores, Henri, 48.
Também vieram formações de extrema direita da Itália, da Bélgica, da Suécia e da Polônia. "Estamos com Le Pen por uma Europa formada por pátrias e não por comissários", afirma Tomasz Karbowski, vice-presidente do movimento político polonês Alternatywa, também com roupas típicas.
Le Pen, 74, segue à frente do desfile. Vai acompanhado da mulher, Jany, 69, de chapéu cor-de-rosa. Atrás dele, a Frente Nacional (FN) colocou a brigada de jovens, para transmitir uma imagem de renovação. Ao chegar perto da estátua dourada de Joana d'Arc, Le Pen deposita um buquê de flores.
A FN organizou a passeata de modo a amenizar sua imagem de radicalismo político. Pediu a militantes ultra-extremistas, como os neonazistas, que não fizessem demonstrações de força. Eles compareceram sem os uniformes e as suásticas. Escondiam as cabeças raspadas com bonés e, às vezes, ocultavam o rosto com bandanas. Alguns eram reconhecidos pela tatuagem "88" -duas vezes a oitava letra do alfabeto, ou seja, "HH", de "Heil Hitler".
A passeata foi considerada de alto risco pela polícia francesa, que colocou brigadas nas ruas anexas a fim de evitar o avanço de blocos antilepenistas. De repente, um corre-corre. A polícia prendeu um negro, que teria feito uma provocação aos manifestantes.
Na praça da Ópera, Le Pen começa seu longo discurso, de uma hora e 20 minutos. À 1h30, a manifestação termina. Os cafés e restaurantes do local estão fechados. Os lepenistas, famintos, correm às barracas de sanduíches, armadas no local por imigrantes. (ALN)


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