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Genoma deve facilitar diagnóstico
CLAUDIO ANGELO
EDITOR-ASSISTENTE DE CIÊNCIA
Dois grupos de cientistas publicaram ontem a sequência do material genético do vírus responsável pela pneumonia asiática. Além
de fornecer a confirmação final de
que um novo tipo de coronavírus
é mesmo o causador da doença, o
genoma deve ajudar os médicos a
produzir testes diagnósticos rápidos e a identificar drogas eficazes
contra o micróbio.
O genoma do coronavírus Urbani Sars-associado, como o vírus
é oficialmente conhecido, foi sequenciado independentemente
por um grupo do Canadá e um
dos EUA e da Alemanha. Os resultados saíram ontem na edição
on-line da revista "Science"
(www.sciencemag.org/feature/data/sars).
"O trabalho foi feito em tempo
recorde. Em dez dias nós tínhamos o genoma inteiro", disse à
Folha a virologista brasileira Teresa Peret, dos CDC (Centros para
Controle e Prevenção de Doenças
dos EUA), que participou do sequenciamento. Segundo ela, esse
tipo de trabalho levaria meses em
condições normais.
O grupo canadense sequenciou
o RNA (ácido ribonucléico, no
qual estão contidos os genes do
parasita) do vírus isolado de um
paciente de Toronto, enquanto a
equipe teuto-americana usou
amostras isoladas do sangue do
médico italiano Carlo Urbani, da
OMS, que morreu após ter contraído a doença no Vietnã.
"As duas sequências são essencialmente idênticas", disse ontem
numa teleconferência o médico
canadense Mel Krajden, da agência de pesquisa genômica da Colúmbia Britânica. Questionado
sobre se estava convencido de que
o coronavírus Urbani é mesmo o
causador da Sars (síndrome respiratória aguda grave, na sigla em
inglês), Krajden respondeu: "Tudo aponta nessa direção".
Respostas e perguntas
Embora a sequência dos canadenses já estivesse disponível na
internet há mais de duas semanas,
a publicação oficial da análise do
genoma traz novos dados de interesse médico sobre o vírus -e várias perguntas sem resposta.
"Identificamos proteínas que
podem estar envolvidas na infecção. De posse do genoma, as pessoas podem clonar essas proteínas e testar antivirais nelas", disse
Caroline R. Astell, também do
grupo canadense.
Por outro lado, os cientistas
continuam no escuro sobre a origem do vírus -informação fundamental para bloquear a epidemia- e sobre a rapidez com que
ele sofre mutações -quanto mais
o vírus muda seus genes, mais difícil é produzir uma vacina. "Só
vamos poder dizer isso depois de
comparar os nossos dados com os
da China, onde está a maioria das
amostras isoladas", disse Peret.
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