São Paulo, quarta-feira, 02 de julho de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Fracassa pressão africana por coalizão no Zimbábue

Ditador rejeita resolução da União Africana pedindo governo de unidade nacional

Rejeição é novo golpe para mediação da África do Sul; líderes não conseguem unanimidade para declarar ilegítimo regime de Mugabe

DA REDAÇÃO

No último dia da cúpula da União Africana (UA) no Egito, o ditador do Zimbábue, Robert Mugabe, 84, rejeitou ontem a formação de um governo de unidade com a oposição de seu país. Sob pressão dos líderes africanos, ele declarou que "não aceita lições de democracia", mas tampouco pôde impedir a aprovação de uma resolução do grupo de 53 membros pedindo um governo de união.
Em meio à condenação internacional da reeleição do ditador, há 28 anos no poder, a resolução foi o máximo que a UA conseguiu acordar. Não houve unanimidade para declarar que o regime de Mugabe é ilegítimo, como havia pedido a oposição no Zimbábue.
Mas, apesar de mais branda do que esperavam países como Zâmbia, Quênia e Botsuana, a resolução foi uma rara intervenção da UA em uma disputa africana, além de uma afronta sem precedentes contra Mugabe -considerado herói da luta contra colonizadores britânicos. Botsuana, assim como o Quênia, pedira a exclusão do ditador da UA e da Comunidade pelo Desenvolvimento da África Austral (SADC).

Descaso
Na cúpula de ontem, em Sharm el Sheik, o ditador discursou durante cerca de meia hora, a portas fechadas, e criticou vários países que defendiam uma posição mais dura -muitos dos quais têm seus próprios problemas com a legitimidade governamental.
O ditador, segundo testemunhas que ouviram o discurso, adotou um tom de desafio e disse ainda que os críticos ocidentais podem "ir se matar".
A demonstração de inflexibilidade foi nova derrota para a África do Sul, mediadora oficial do conflito pela SADC e principal defensora de um governo de unidade no país.
Mugabe venceu na última semana o segundo turno de uma eleição na qual foi o único candidato. O opositor Morgan Tsvangirai, líder do Movimento pela Mudança Democrática (MDC), desistira de disputar o pleito devido à violenta repressão contra seus simpatizantes.
Segundo a própria UA e a SADC, a votação não representou a vontade do povo zimbabuano. O MDC afirma que quase 90 pessoas foram mortas e 200 mil desalojadas na campanha de repressão empreendida por milícias governistas após o primeiro turno da eleição, em março, vencido por Tsvangirai.
Ainda ontem, a França disse que a União Européia não aceitará uma coalizão que não seja liderada por Tsvangirai.
E esforços para aprovar sanções ao Zimbábue na ONU tiveram recepção fria da China, que disse que "os problemas do Zimbábue devem ser resolvidos pelos zimbabuanos" e que a comunidade internacional deve apenas promover o diálogo.


Com agências internacionais


Texto Anterior: Oriente Médio: EUA negam que Israel planeje atacar o Irã até o fim do ano
Próximo Texto: Polícia encerra sem conclusão investigação de Madeleine
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.