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Aumentam as divergências no Partido Republicano
RUPERT CORNWELL
DA "REUTERS", EM WASHINGTON
As declarações belicosas em
Washington sobre uma operação
destinada a derrubar Saddam
Hussein mascara um debate intenso dentro do Partido Republicano, ao qual pertence o presidente George W. Bush.
O desfecho da discussão não determinará apenas o destino do ditador iraquiano mas também o
sistema de relações internacionais
em vigor.
A discussão se resume na seguinte encruzilhada: os EUA podem intervir unilateralmente ou
precisam inicialmente ganhar o
apoio de aliados com as bênçãos
das Nações Unidas?
Que Saddam deva ser derrubado é algo com o que todos concordam. A pergunta, no entanto, é
como fazê-lo, algo que faz a administração Bush se mostrar contraditória e atrapalhada.
O problema coloca de um lado
os "falcões" liderados pelo vice-presidente Dick Cheney e pelo secretário da Defesa Donald Rumsfeld, e de outro o grupo mais moderado, representado pelo secretário de Estado Colin Powell e
composto por militares próximos
aos republicanos e mandarins da
diplomacia, como James Baker e
Brent Scowcroft, que eram o assessor de Segurança Nacional e o
secretário de Estado quando o
presidente Bush, pai de George
W. Bush, lançou a guerra que forçou Saddam a desocupar o Kuait.
O grupo de Cheney e Rumsfeld
fundamenta seus argumentos no
sacrossanto dever militar do país.
Isoladamente, os EUA podem
derrotar o Iraque sem dificuldades e, se deixarem claro que assim
o farão, outros países não teriam
escolha a não ser acompanhá-los.
Ainda para o grupo, levar a questão à ONU e pressionar pela volta
dos inspetores de armas é fazer o
jogo protelatório de Saddam, o
mestre da prevaricação.
Não se preocupem com os hesitantes, diz Rumsfeld. Eles reagiram da mesma forma em 1991,
antes da Guerra do Golfo, em
1999, quando do conflito em Kosovo, ou no ano passado, precedendo as operações que derrubaram o regime afegão.
O mesmo tende a acontecer
com o Iraque, desencadeando um
círculo virtuoso que atingiria o
mundo árabe e países de fora dele.
Os moderados do Partido Republicano concordam com as
premissas básicas dos falcões.
Acham que Saddam é uma ameaça para a região, que ele vem violando resoluções da ONU e que,
se ele já usou no passado armas de
destruição em massa, não hesitaria em obter armas nucleares como um instrumento de chantagem. Além disso, como Saddam
se suicidaria ao atacar diretamente os Estados Unidos, é possível
que ele disponibilize armas biológicas ou químicas a grupos terroristas como a Al Qaeda.
O que preocupa os moderados
são as consequências posteriores
a uma operação solitária dos Estados Unidos. Baker pensa nos danos que a imagem do país sofrerá.
O general Scowcroft adverte para
o antiamericanismo já existente
em razão do apoio de Washington a Israel.
Os moderados acreditam, assim, que a obtenção de um mandado da ONU, ou ao menos um
esforço para obtê-lo, seria a condição mínima para desencadear
uma guerra. Powell pensa da mesma maneira.
Ou seja, George W. Bush é
quem deve tomar solitariamente
a decisão final. Há o pressentimento de que, por instinto, ele
concordaria com os falcões. Ele
nunca perde a oportunidade de
conclamar a uma "mudança de
regime", eufemismo de uma intervenção militar no Iraque.
Ele sabe que a guerra está na raiz
de seus estratosféricos índices de
aprovação, que estão hoje bem
menores mas que são mesmo assim invejáveis para um presidente
no meio do mandato.
Recuar agora, acredita Bush,
afetaria sua credibilidade e daria a
Saddam uma vitória moral. Mas
Bush também sabe que, mesmo
que bem-sucedida, uma operação
contra Saddam insuflaria o sentimento antiamericano que abastece os terroristas em potencial,
criando outros problemas como
forçar a presença de tropas americanas em Bagdá por alguns anos.
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