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Combate ao ópio beneficia Taleban, defende estudo
Para diretor de ONG, solução é legalizar a droga
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
Se os EUA conseguirem atingir pelo menos um de seus objetivos no Afeganistão, o principal vencedor será o grupo radical islâmico proscrito Taleban,
o mesmo que deu guarida para
o terrorista Osama bin Laden e
sua Al Qaeda prepararem o ataque de 11 de Setembro. O paradoxo é defendido em levantamento recente feito pela ONG
Drug Policy Alliance.
O Afeganistão, que fornece
90% do ópio consumido no
mundo, é um dos raros países
da Terra em que os EUA lutam
suas duas principais guerras: a
"guerra contra o terror", pilar
dos dois mandatos de George
W. Bush, e a guerra antidrogas,
herança ainda da presidência
de Richard Nixon (1969-1974).
Se vencerem a última, defende
Ethan Nadelmann, diretor-executivo da Drug Policy, estarão fortalecendo o Taleban.
"Pense por um momento que
os EUA, a Otan (aliança militar
ocidental) e o governo do [presidente afegão] Hamid Karzai
consigam de alguma maneira
interromper a produção de
ópio no Afeganistão", escreve
ele na última edição da revista
"Foreign Policy". "Quem iria se
beneficiar? Só o Taleban, os líderes guerreiros e outros empresários do mercado negro,
que veriam o valor de seus estoques disparar."
Pelo raciocínio de Nadelmann, com a proibição, os EUA
indiretamente dariam dinheiro
aos inimigos que tentam derrotar, hoje financiados pela venda
da droga. A solução? "Legalizar
já", defende. O argumento vai
além do tradicional, defendido
desde os anos 90 por economistas como Milton Friedman
(1912-2006), segundo o qual
um produto com alta demanda
que é comercializado ilegalmente num país, como as drogas, causa perda em impostos
para o governo em questão.
A novidade é o argumento da
legalização das drogas não só
por motivos econômicos, mas
como linha auxiliar no combate
ao terrorismo islâmico. É o
mesmo que defende o escritor e
polemista Christopher Hitchens, autor de "Amor, Pobreza
e Guerra" (Ediouro). "Nós
queimamos e destruímos o
que, na verdade, é a única cultura do país, enquanto sofremos
com a falta de analgésicos nos
EUA", escreveu. "Por que, em
vez disso, não compramos a colheita afegã e a usamos para
produzir os analgésicos?"
O pais já compra ópio medicinal da Turquia, afirma Hitchens, "que não precisa do dinheiro". O dinheiro obtido com
as drogas, argumenta, poderia
ser usado como incentivo para
que o país voltasse a produzir
uvas viníferas, o que fazia três
décadas atrás.
"O lucro que hoje em dia vai
para traficantes e terroristas
poderia ser aplicado diretamente na reconstrução do Afeganistão, ao mesmo tempo em
que enfraqueceria aqueles que
se beneficiam de um monopólio criado artificialmente."
"De Pablo a Osama"
A relação entre drogas e terrorismo islâmico aparece em
outro livro recém-lançado,
"From Pablo to Osama - Trafficking and Terrorist Networks, Government Bureaucracies and Competitive Adaptation" (De Pablo a Osama - tráfico e redes terroristas, burocracias governamentais e adaptação competitiva, Pennsylvania State University Press), de
Michael Kenney.
Nele, o professor de políticas
públicas usa as semelhanças
entre o traficante colombiano
Pablo Escobar (1949-1993) e o
terrorista saudita Osama bin
Laden como partida para chegar ao principal ponto em comum entre as duas atividades,
tráfico de drogas e terrorismo:
a incrível resistência à repressão organizada. Conseguem isso, argumenta o autor, por se
adaptar rapidamente a novas
realidades, enquanto os governos em geral se perdem na lentidão da burocracia.
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