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foco
Escola que ensina cultura árabe a crianças em Nova York provoca polêmica
DENYSE GODOY
DE NOVA YORK
Sob muita polêmica, Nova
York ganha nesta semana a sua
primeira escola pública de ensino fundamental onde aulas
de língua e cultura árabe farão
parte do currículo regular. Na
próxima terça-feira, início do
ano letivo nos EUA, abre as
portas no bairro do Brooklyn a
Academia Internacional Khalil Gibran. Qualquer aluno interessado pode estudar lá -até
anteontem, 53 alunos tinham
se matriculado, sendo que há
60 vagas disponíveis.
Já são mais de 70 os estabelecimentos temáticos e bilíngües na cidade: existem os que
têm foco em artes, os hispânicos, os chineses, os russos, os
franceses. Mas nenhum causou tantos protestos.
"Se fosse particular, tudo
bem, sem problemas. Mas as
escolas públicas americanas
devem abordar apenas o idioma falado aqui e a cultura local", reclama Andrew Wolf, colunista do jornal "The New York Sun" que escreveu vários
artigos criticando a política da
prefeitura. "Espera-se que as
pessoas que se mudam para
este país tenham interesse em
se integrar. O objetivo do ensino público é criar a identidade
americana. Temos que reforçar o que temos em comum, e
não as nossas diferenças. Daqui a pouco, imagine, teremos
que abrir escolas brasileiras,
argentinas, para libaneses..."
Especialistas em educação
fazem coro: "Sou contra escolas que separam crianças conforme sua nacionalidade, etnia
ou herança cultural. Os EUA
têm longa tradição em escolas
públicas que ensinam cidadania e cultura comum, o que é o
seu papel", diz Diane Ravitch,
professora da Universidade de
Nova York. Na sua opinião, o
melhor que os pais que desejam que seus filhos aprendam
sobre as suas origens têm a fazer é colocá-los em escolas privadas ou cursos extraclasse
que tenham esse objetivo.
Wolf e Diane ressaltam que
o seu posicionamento é contra
escolas bilíngües em geral, não
importando a nacionalidade.
Medo do islã
Mas há quem manifeste especial preocupação com a
orientação árabe desta que será inaugurada -teme-se que
ela se transforme em um centro de treinamento de radicais.
"Idealizadores e apoiadores
dessa idéia têm ligações com
grupos fundamentalistas islâmicos", acusa Sara Springer,
membro do grupo Stop the
Madrassa (parem a madrassa,
escola religiosa islâmica).
Tal suspeita derrubou, no
início do mês passado, a diretora da Academia Internacional Khalil Gibran, Debbie Almontaser. Nascida no Iêmen, ela migrou para os EUA com
três anos de idade e era professora de carreira do sistema público. Indagada pelo tablóide
"The New York Post" a respeito de uma camiseta com os dizeres "Intifada NYC" que estava sendo vendida pela organização Mulheres Árabes Atuantes nas Artes e na Mídia, sediada no Brooklyn, ela tergiversou e comentou apenas que o
termo intifada quer dizer "sacudir", quando se esperava que
condenasse a frase.
"Minimizando o significado
que a palavra adquiriu ao longo da história, minha intenção
foi falar que reprovo a violência", desculpou-se Debbie,
acrescentando nada ter a ver
com a entidade que criou a peça -uma outra instituição da
qual ela faz parte divide um escritório com a Mulheres Árabes. A sua renúncia ao cargo
não contentou os que se
opõem à escola. "Já escrevemos diversas cartas para o prefeito Michael Bloomberg.
Queremos que ele feche esse
estabelecimento", afirma Sara.
Protestos devem marcar o
início das aulas, porém a administração municipal não voltará atrás. "Um dos motivos que
justificam o funcionamento da
Khalil Gibran é a necessidade
que temos, neste país, de mais
pessoas que falem árabe", diz
Melody Meyer, porta-voz do
Departamento de Educação.
"Manifestações políticas ou
ideológicas nas dependências
da escola estão proibidas."
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