São Paulo, domingo, 02 de setembro de 2007

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Escola que ensina cultura árabe a crianças em Nova York provoca polêmica

DENYSE GODOY
DE NOVA YORK

Sob muita polêmica, Nova York ganha nesta semana a sua primeira escola pública de ensino fundamental onde aulas de língua e cultura árabe farão parte do currículo regular. Na próxima terça-feira, início do ano letivo nos EUA, abre as portas no bairro do Brooklyn a Academia Internacional Khalil Gibran. Qualquer aluno interessado pode estudar lá -até anteontem, 53 alunos tinham se matriculado, sendo que há 60 vagas disponíveis.
Já são mais de 70 os estabelecimentos temáticos e bilíngües na cidade: existem os que têm foco em artes, os hispânicos, os chineses, os russos, os franceses. Mas nenhum causou tantos protestos.
"Se fosse particular, tudo bem, sem problemas. Mas as escolas públicas americanas devem abordar apenas o idioma falado aqui e a cultura local", reclama Andrew Wolf, colunista do jornal "The New York Sun" que escreveu vários artigos criticando a política da prefeitura. "Espera-se que as pessoas que se mudam para este país tenham interesse em se integrar. O objetivo do ensino público é criar a identidade americana. Temos que reforçar o que temos em comum, e não as nossas diferenças. Daqui a pouco, imagine, teremos que abrir escolas brasileiras, argentinas, para libaneses..."
Especialistas em educação fazem coro: "Sou contra escolas que separam crianças conforme sua nacionalidade, etnia ou herança cultural. Os EUA têm longa tradição em escolas públicas que ensinam cidadania e cultura comum, o que é o seu papel", diz Diane Ravitch, professora da Universidade de Nova York. Na sua opinião, o melhor que os pais que desejam que seus filhos aprendam sobre as suas origens têm a fazer é colocá-los em escolas privadas ou cursos extraclasse que tenham esse objetivo.
Wolf e Diane ressaltam que o seu posicionamento é contra escolas bilíngües em geral, não importando a nacionalidade.

Medo do islã
Mas há quem manifeste especial preocupação com a orientação árabe desta que será inaugurada -teme-se que ela se transforme em um centro de treinamento de radicais. "Idealizadores e apoiadores dessa idéia têm ligações com grupos fundamentalistas islâmicos", acusa Sara Springer, membro do grupo Stop the Madrassa (parem a madrassa, escola religiosa islâmica).
Tal suspeita derrubou, no início do mês passado, a diretora da Academia Internacional Khalil Gibran, Debbie Almontaser. Nascida no Iêmen, ela migrou para os EUA com três anos de idade e era professora de carreira do sistema público. Indagada pelo tablóide "The New York Post" a respeito de uma camiseta com os dizeres "Intifada NYC" que estava sendo vendida pela organização Mulheres Árabes Atuantes nas Artes e na Mídia, sediada no Brooklyn, ela tergiversou e comentou apenas que o termo intifada quer dizer "sacudir", quando se esperava que condenasse a frase.
"Minimizando o significado que a palavra adquiriu ao longo da história, minha intenção foi falar que reprovo a violência", desculpou-se Debbie, acrescentando nada ter a ver com a entidade que criou a peça -uma outra instituição da qual ela faz parte divide um escritório com a Mulheres Árabes. A sua renúncia ao cargo não contentou os que se opõem à escola. "Já escrevemos diversas cartas para o prefeito Michael Bloomberg. Queremos que ele feche esse estabelecimento", afirma Sara.
Protestos devem marcar o início das aulas, porém a administração municipal não voltará atrás. "Um dos motivos que justificam o funcionamento da Khalil Gibran é a necessidade que temos, neste país, de mais pessoas que falem árabe", diz Melody Meyer, porta-voz do Departamento de Educação. "Manifestações políticas ou ideológicas nas dependências da escola estão proibidas."


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